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    21º Festival É Tudo Verdade será ainda maior apesar da crise e por causa da crise

    O pesquisador Amir Labaki apresentou à imprensa os títulos em competição.

    Para o público, o 21º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade começa apenas dia 7 de abril, mas em 24 de março o festival teve a sua primeira exibição, dedicada à imprensa. O pesquisador e crítico de cinema Amir Labaki apresentou aos jornalistas a programação oficial do evento, antes de exibir um dos filmes mais aguardados da seleção: Fogo no Mar, vencedor do festival de Berlim 2016.

    Cinema em tempos de crise

    Labaki e os patrocinadores presentes ressaltaram a importância de manter o festival num momento político arriscado. "É um ano difícil para todo mundo, em circunstâncias políticas e econômicas complicadas", precisa o curador. José Roberto Sadek, Secretário Adjunto de Cultura do Estado de São Paulo, aproveitou esses "tempos de mares revoltos" para elogiar o evento, dizendo que, nestes momentos, "as principais mostras sempre ficam".

    Nabil Bonduki, Secretário Municipal de Cultura de São Paulo, foi além: "Hoje em dia é extremamente importante discutir o que é verdade e o que não é", dizendo que "o mundo está trágico, não apenas o Brasil". Ele completa: "O prefeito (Fernando Haddad) diz que a saída pela crise não é pela política, é pela cultura, mas cultura também é política".

    Uma edição ainda maior

    Apesar da crise, ou talvez justamente por causa dela, os produtores receberam um número recorde de inscrições em 2016. "Festival é espelho, ele reflete o olhar dos realizadores para o mundo e para o mundo deles", explica Labaki. Por isso, ele não considera surpreendente que os momentos difíceis impulsionem as produções cinematográficas. Afinal, de acordo com o crítico, "documentário é urgente", e este gênero seria "uma das formas primeiras de expressão no Brasil".

    A 21ª edição do É Tudo Verdade trará ainda mais filmes do que nos anos anteriores. Serão 85 títulos diferentes, incluindo 20 estreias mundiais. Carlos Nader, primeiro cineasta a vencer duas edições seguidas (com A Paixão de JL em 2015 e Homem Comum em 2014), ganha uma retrospectiva integral de sua carreira, enquanto as Olimpíadas são o tema de cinco longas-metragens com olhar crítico. 

    As sessões de abertura contam com dois títulos aguardados: em São Paulo, será exibido Fogo no Mar, documentário sobre os imigrantes africanos que tentam chegar à Europa através da pequena ilha de Lampedusa. Já o Rio de Janeiro começa sua programação com As Incríveis Artimanhas da Nuvem Cigana, um retrato da arte marginal carioca nos anos 1970.

    As mostras competitivas trazem novos filmes de mestres do documentário como Vladimir Carvalho (Cícero Dias, o Compadre de Picasso), Walter Carvalho (Manter a Linha da Cordilheira Sem o Desmaio da Planície) e Eduardo Escorel (Imagens do Estado Novo 1937-45). As produções internacionais têm nada menos que quatro produções latino-americanas, como o chileno 327 Cadernos e o colombiano Paciente

    A bela imigração

    A aguardada sessão de Fogo no Mar, de Gianfranco Rosi, revelou à imprensa as qualidades que cativaram Meryl Streep e os demais membros do júri na Berlinale 2016. O cineasta retrata de perto a vida na ilha de Lampedusa, destacando especialmente a vida do garoto Samuele, filho de pescadores. Enquanto isso, mostra a chegada de imigrantes que arriscam suas vidas em travessias perigosas até a Europa. 

    O filme tem imagens belíssimas, até demais - o estetismo do cineasta poderia ser questionado por impedir o retrato humano dos viajantes. Rosi filma os grupos de homens, mulheres e crianças negros de modo indistinto, sem detalhar suas histórias: fica evidente que o diretor possui maior interesse estético do que político no tema abordado. Mesmo assim, Rosi faz um retrato urgente, numa produção grandiosa capaz de condensar algumas das principais inquietudes dos nossos dias.

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