Todo o debate sobre diversidade em Hollywood costuma apontar para um problema chave da indústria cinematográfica: a dificuldade de se investir em filmes sobre atores negros e de outras minorias por achar que não há retorno financeiro nesse tipo de produção. Isso se reflete de várias maneiras em premiações como o Oscar. Como disse Viola Davis no seu já antológico discurso em sua vitória no Emmy, não há como um ator negro ser premiado "por papéis que simplesmente não existem".
Durante sua jornada para levar aos cinemas a história de um dos maiores músicos americanos de todos os tempos, Don Cheadle sentiu na pele a dificuldade de se fazer um filme sobre um personagem negro. De acordo com o ator, que também assume a direção, roteiro e produção da cinebiografia Miles Ahead, sobre Miles David, seu projeto não teria saído do papel se ele não tivesse escalado um ator branco para o filme.
Numa conferência de imprensa realizada na semana passada no Festival de Berlin, onde o filme sobre a lenda do jazz foi exibido, Cheadle contou que filmes com um elenco formado majoritariamente por negros tem maior dificuldade para conseguir financiamento e distribuição fora dos Estados Unidos: "É a realidade da nossa indústria".
"Há muitas falsas evidências de que filmes feitos por negros não se saem bem no exterior", disse Cheadle. "Ter um ator branco nesse filme acabou sendo um imperativo financeiro", completou.
O ator branco em questão é Ewan McGregor que interpreta um repórter da Rolling Stone que vai atrás de Miles Davis para acompanhar a gravação de um álbum que marcaria um fim de um hiato criativo de cinco anos na carreira do músico.
Cheadle deu a entender que o filme teve de ser reescrito para ampliar a importância do personagem de McGregor, mas dissse que "o filme funciona muito bem" e elogiou o ator. "Eu acho que ele está fantástico, mas ele foi o componente que nos permitiu ter um orçamento para fazer o filme".
Miles Ahead ainda não tem data de estreia no Brasil.
