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    Entrevista exclusiva: "Queria manter o humor ao abordar a doença", diz Catherine Hardwicke sobre Já Estou com Saudades

    A diretora conversou com o AdoroCinema sobre seu novo trabalho no cinema.

    Ela despontou 12 anos atrás com o contundente Aos Treze, que relatava o início da vida sexual de uma jovem com a idade do título. Desde então perambulou pelo universo do skate na Califórnia dos anos 1970 (Os Reis de Dogtown), pela vida de Jesus Cristo (Jesus - A História do Nascimento), a recriação de um clássico conto de fadas (A Garota da Capa Vermelha) e, é claro, uma certa paixão entre um vampiro e uma humana (Crepúsculo).

    Catherine Hardwicke está de volta aos cinemas brasileiros com Já Estou com Saudades, que acompanha os esforços de uma mulher ao combater o câncer de mama. O AdoroCinema pôde conversar com a diretora, que explicou a mudança de rumo adotada neste novo trabalho, como foi a escolha do elenco e o porquê de jamais ter dirigido uma sequência. Tudo sem perder a militância a favor do espaço das mulheres em Hollywood, é claro!

    ADOROCINEMA: Você ficou conhecida ao rodar filmes que retratavam gerações mais novas, como Aos Treze, Os Reis de Dogtown e Crepúsculo, e com Já Estou com Saudades traz uma história envolvendo mulheres aos 40 anos. Como foi mudar este enfoque neste novo trabalho?

    CATHERINE HARDWICKE: Mesmo em meu primeiro filme, Holly Hunter era uma personagem bastante importante ao interpretar a mãe. Sempre amei trabalhar com atores mais velhos. Para mim, cada ator é especial em meus filmes, independente da idade que tenha. Então o que queria de fato era que a história narrada por estas personagens mais velhas fosse realista, esta era minha maior preocupação.

    AC: Já Estou com Saudades é também um filme bem diferente de seus trabalhos anteriores, por investir no lado sentimental. Você teve medo de falar sobre emoções desta forma?

    CATHERINE: Sim, tive medo do quão emotivo poderia ser. Queria manter o humor ao abordar a doença, mostrar que ela pode não ser apenas triste. Este foi um trabalho difícil, pois trata-se de um tabu que as pessoas não querem falar muito. Foi também um bom desafio, o que para mim foi bom porque gosto de dificuldades.

    AC: Como foi trabalhar com Morwenna Banks, criadora da peça e roteirista do longa-metragem?

    CATHERINE: Ela é uma pessoa muito bacana, muito divertida e inteligente. Ela passou pela experiência relatada no filme com algumas de suas amigas quando era mais jovem e dali captou o humor diante da situação. Quando li o roteiro pela primeira vez o achei muito mórbido, então trabalhamos juntas e incluímos algumas características de road trip. Queria tirá-las de Londres, criar uma lista de desejos! Ela foi bastante colaborativa e mesmo os atores improvisaram alguns diálogos, o que ela aceitou bem.

    AC: Isto é algo que chama muito a atenção em Já Estou com Saudades, pois ao mesmo tempo em que tem um lado triste ele traz também humor a partir desta situação. Como foi encontrar um balanço entre estes dois lados da história?

    CATHERINE: Acredito que ter lidado com o câncer do meu pai me ajudou a ter este balanço. Tive dias bastante tristes quando era criança, mas também outros em que ele dizia algo ridículo e isto era hilário! Então tanto falávamos de coisas tristes quanto tínhamos momentos divertidos. No filme temos crianças, mãe, marido, amante... todos têm uma vida própria e precisam seguir em frente, da melhor forma possível.

    AC: Como foi a escolha de Toni ColletteDrew Barrymore para os papéis principais?

    CATHERINE: Toni já havia lido o roteiro antes de mim e sempre disse que gostava bastante dele. Já tinha visto vários filmes dela, onde sempre aparentava ser meio louca, e eu gostava disto! Já com Drew eu conversei bastante e achei que ela se encaixaria bem no papel da melhor amiga. Achei que ter as duas juntas seria algo mágico! Já no primeiro dia em que nos encontramos, em Londres, nos demos muito bem e rimos bastante.

    AC: Li que Jennifer AnistonRachel Weisz estiveram cotadas para o filme. Isto é verdade?

    CATHERINE: Sim, foi antes mesmo de estar envolvida com o projeto. Os produtores haviam enviado o roteiro para Jennifer Aniston, mas ela não ficou à vontade com a ideia de ter que cortar o cabelo. Teve um momento em que Rachel esteve interessada no filme, mas achei que eu deveria escolher as pessoas certas para o projeto.

    AC: Você teve uma experiência rara entre diretoras, que foi comandar um filme de uma grande franquia [Crepúsculo]. Na sua opinião, por que tão poucas mulheres têm esta oportunidade em Hollywood?

    CATHERINE: Eu espero que isto comece a mudar neste ano, porque agora todos estão falando disto. Fiz meu primeiro filme há 12 anos atrás e os números não mudaram desde então: continua em 4%. Sonho com o dia em que todas as pessoas digam que qualquer filme dirigido por um homem possa ser dirigido por uma mulher. Parece que os produtores e financiadores assumiram o compromisso de mudar isto a partir deste ano.

    AC: Qual é a importância do discurso de Patricia Arquette no Oscar deste ano, quando ganhou o troféu de melhor atriz coadjuvante por Boyhood, neste sentido de que as mulheres tenham mais oportunidades em Hollywood?

    CATHERINE: Foi fantástico! Teve uma repercussão imensa! É hora de mudar a questão do pagamento desigual a homens e mulheres.

    AC: Você nunca dirigiu uma sequência, nem mesmo de Crepúsculo. Por que?

    CATHERINE: Não quis fazer porque gosto de fazer algo que me desafie, que traga uma dificuldade especial. Não me conectei com os outros livros da série de Stephenie Meyer. Gostei do primeiro porque retratava o primeiro amor, os outros traziam questões que não me interessavam.

     

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