A figura paterna sempre foi um elemento importante em Guerra nas Estrelas. Foi assim no primeiro filme e é assim neste novo. De certa forma, George Lucas foi o pai não só de Star Wars, mas também de todo um universo geek que nasceu após este. Apesar de Jar Jar Binks, Greedo atirando primeiro, midclorians e tudo mais, Lucas terá sempre o carinho dos fãs e dos apaixonados pelo cinema fantástico.
Mas agora é hora de falar do novo pai, o adotivo: J.J. Abrams. Não bastasse ter feito Alias e Lost, não bastasse ter feito um belo filme que celebrava o cinema infantil dos anos 80 (Super 8), não bastasse salvar as franquias Missão Impossível e Star Trek, agora Abrams assume a responsabilidade de dirigir Star Wars - O Despertar da Força e devolver à franquia todo o clima da trilogia original, lançada entre 1977 e 1983. Ou seja, há mais de 30 anos.
E o melhor é concluir que ele conseguiu. Assim como fez com Star Trek, Abrams conseguiu criar um novo episódio que fizesse justiça ao original, mas que também oferecesse algo novo. É claro que o fã da franquia já ficaria satisfeito só de rever caras conhecidas, como Han Solo, Leia, Chewie e muitos outros, mas vai ficar muito mais feliz ao receber novos personagens para se apaixonar.
A trama inicia muito anos após o visto em O Retorno de Jedi. A queda de Darth Vader e do Império levou ao surgimento de uma nova força sombria, a Primeira Ordem. Eles procuram por Luke Skywalker, poderoso Jedi que está recluso há anos. Ao mesmo tempo, a Ordem tem seu domínio ameaçado pela Resistência, liderada por Leia, que também procura pelo irmão.
Antes de gritarem por SPOILER, saiba que esta informação é apenas a sinopse do filme e está presente já nos letreiros iniciais da produção. Como de costume no AdoroCinema, pode deixar que não vamos revelar nada importante por aqui. E acredite, tem muita coisa importante no filme.
Neste sentido, é importante valorizar os produtores por guardarem algumas surpresas (e que surpresas!) para o longa, não revelando tudo nos trailers, teasers, clipes e tudo mais. Talvez tenha sido vídeos em excesso, é verdade, mas ao menos muita coisa ficou para o filme.
É difícil não se emocionar ao ver Harrison Ford e Carrie Fisher como Han e Leia. Vê-lo na Millenium Falcon é algo realmente especial. A atriz também se mostra muito confortável como líder da resistência, como lá no primeiro longa, de 1977. Mas mesmo os veteranos contando com um espaço considerável do coração do público, é importante destacar os dois novos protagonistas Daisy Ridley e John Boyega. O material promocional já prometia personagens interessantes, mas é mais que isso, são personagens que gerações irão amar daqui para a frente, como foi com a Trilogia Original e não foi com a Nova Trilogia.
Ridley é a heroína do século XXI. Junto com a Furiosa de Charlize Theron (Mad Max: Estrada da Fúria) chega para mostrar de uma vez por todas que mulheres têm sim lugar no cinema de ação. Leia talvez tenha sido uma das primeiras personagens femininas fortes do cinema de ficção e é interessante ver Star Wars mais uma vez marcando presença neste sentido. Trata-se de uma heroína natural. Forte, inteligente, ágil e não precisa ser conduzida ou salva por um homem, mostrando isso repetidas vezes em cena.
Já Boyega é uma espécie de alívio cômico da produção, mas não é um palhaço. Star Wars sempre teve humor e Finn representa bem este elemento, seja por frases engraçadas, seja pelo desespero com que lida com algumas situações.
Do lado da Primeira Ordem, surge o temido Kylo Ren (Adam Driver), um vilão complexo e muito bem desenvolvido. Instável, ele deseja seguir os passos de Vader. Por outro lado, a Capitã Phasma (Gwendoline Christie) tem uma participação menos importante e interessante do que prometia.
Oscar Isaac, Lupita Nyong’o e Domhnall Gleeson completam o novo time. A atriz vencedora do Oscar por 12 Anos de Escravidão está numa personagem totalmente digital, mas demonstra uma grande expressividade, sem falar no trabalho de voz. Rei dos personagens digitais, Andy Serkis também está presente, mas não diz muito a que veio num papel que deve ganhar destaque mais para a frente.
Os fãs ficarão em êxtase ao encontrar com naves e robôs conhecidos, como C3PO e R2D2, mas também irã se encantar com o novo BB-8 que é meio que uma mistura de R2D2 com Wall-E em uma versão mais bonita.
O principal mérito de Abrams e da equipe técnica foi criar o visual do filme. Os efeitos especiais são incríveis e são várias as cenas de ação, mas o mais importante é que os efeitos não são tão artificiais quanto nos episódios I, II ou III, ou das modificações posteriores na Trilogia Original. O diretor parece mais interessado em criar um mundo que seja plausível, embora repleto de criaturas, naves e tudo mais, do que ficar colocando criaturas digitais gigantes por todos os cantos. Desculpa, George!
Abrams geralmente trabalha com a mesma equipe, mas ele teve a sabedoria de reconhecer que não existe Star Wars sem John Williams. Não só é incrível ouvir o tema original ou o de Leia e Han, mas os novos temas também se destacam, principalmente o de Rey, no início do filme.
The Force Awakens (no original) une bem os sentimentos de nostalgia e empolgação pelo novo, tem momentos bem delicados e batalhas épicas, além de muitas referências ao primeiro filme (Episódio IV). As citações não estão apenas nos atores, mas também em sequências parecidas. O final é muito bom, de deixar o espectador segurando a poltrona e abre um grande caminho para o Episódio VIII.
Se o novo longa tem um defeito talvez seja este de não se fechar em si próprio. Uma Nova Esperança foi o primeiro longa de uma trilogia, que na verdade era o quarto de seis filmes. Ainda assim, o público tinha melhor a sensação de conclusão. No mesmo sentido, a obra de Abrams deixa muita coisa para explicar sobre a trama em si, como a origem da Primeira Ordem e o desfecho dos personagens originais. É legal criar mistério, mas é frustrante ficar enrolando o espectador. A solução é esperar até 2017.
O título prometia o despertar de uma força, mas não é apenas a Força que o filme desperta. Ele também acorda um sentimento chamado Guerra nas Estrelas que estava apagado há quase 33 anos. Os prelúdios podem ter ajudado a vender mais brinquedo, mas não passaram perto de fazerem justiça a toda história pregressa. O Episódio VII não só faz justiça, como oferece uma continuidade. E vida longa a Star Wars!