O AdoroCinema já está em São Paulo para acompanhar o 23º Festival Mix Brasil de Cinema da Diversidade, e nesta sexta-feira, nós assistimos a três produções muito diferentes em tom e formato. Mesmo assim, elas traziam um tema em comum: a inserção de gays, lésbicas, travestis e transexuais na sociedade de modo pacífico e ativo.
Ao mesmo tempo em que, do lado de fora do cinema, manifestantes tomavam a rua Augusta para exigir a saída de Eduardo Cunha da Câmara dos Deputados, e que jornais do mundo inteiro relatavam a tragédia decorrente de atos terroristas na França, os filmes contribuíam à reflexão ao fazerem uma denúncia dos preconceitos e da nossa dificuldade em lidar com as diferenças.
Solução nº1: O gueto
O documentário cubano Juntos e Misturados apresenta o dia a dia da casa Mejunje, em Havana, conhecida por abrigar gays, travestis, alcoólatras, punks e todos os tipos de pessoas excluídas. O local é apresentado como um círculo cultural e modelo social para Cuba e o mundo. O diretor Nicolás Muñoz estabelece um belo retrato, sem julgamentos, das pessoas que frequentam o Mejunje, e faz questão de sublinhar sua importância na política local. Mesmo assim, sua visão um pouco ingênua das relações sociais acaba prejudicando o retrato: segundo Muñoz, o amor é capaz de consertar todos os problemas.
Solução nº2: A aceitação
Talvez o filme mais fraco dos três seja o tailandês Como Vencer no Jogo (Sempre), que representa seu país na corrida pelo Oscar 2016. O drama apresenta a vida de um garotinho órfão, descobrindo através do irmão homossexual um mundo marcado por violência policial, corrupção, drogas, prostituição e outras mazelas. O mais curioso é ver o diretor Josh Kim transformar esse painel desolador numa obra leve, divertida e um tanto inconsequente: para o filme, as desigualdades sempre existirão, e não há nada que se possa fazer para combatê-las.
Solução nº3: O confronto
Já Nasty Baby trouxe uma visão complexa do mecanismo social através da história de um casal gay que busca ter um filho com a ajuda de uma amiga próxima, também carente de se tornar mãe. Eles driblam com certa habilidade o preconceito ao redor, mas um vizinho agressivo começa a provocá-los cada vez mais. Freddy, o protagonista, tenta se conter, até o confronto com este homem se tornar inevitável. O filme passa da comédia ao suspense, fazendo com que o espectador questione as atitudes daqueles personagens, tão agradáveis no início. Uma bela reflexão do diretor Sebastián Silva e do produtor Pablo Larraín.