Como cantava Renato Russo, "o futuro não é mais como era antigamente". Lançado no ano de 1989, o filme De Volta Para o Futuro II intrigou e entreteve espectadores ao imaginar como seria o mundo no décimo quinto ano do século XXI.
No fenomenal De Volta Para o Futuro, primeiro filme da franquia, o diretor Robert Zemeckis e o roteirista Bob Gale levaram o adolescente Marty McFly (Michael J. Fox) e o excêntrico cientista Emmett "Doc" Brown (Christopher Lloyd) em uma viagem ao passado. No segundo filme da cinessérie, a dupla — juntamente com Jennifer (Elisabeth Shue), namorada de McFly — viaja para o futuro para impedir que a família de Marty entre em ruína. Eles desmbarcam no terceiro milênio no dia 21 de outubro de 2015, também conhecido como hoje. Então, onde estão os carros voadores? Onde está McFly? Cadê o skate sem rodas que flutua no ar?
Em consonância com o verso da canção da Legião Urbana, há um misto de diversão e estranheza ao se deparar com as ideias que, no passado, se projetavam sobre o futuro, muitas vezes levantadas pelo próprio cinema. O futuro de ontem é o presente de hoje, diria um filósofo de botequim. Em De Volta Para o Futuro II, previu-se uma série de avanços tecnológicos que, de certa maneira, fazem parte do dia-a-dia contemporâneo. Outros palpites, no entanto, passaram muito longe (afinal, ninguém mais manda fax para ninguém, não é mesmo?).
O futuro de De Volta Para o Futuro
Nos anos 80, muitos filmes futiristas pensavam que a humanidade estava destinada a encontrar um cenário cyberpunk e opressor, como nas distopias Brazil: O Filme (1985), O Exterminador do Futuro (1984), Blade Runner, O Caçador de Androides (1982) e Akira (1988). Zemeckis decidiu planejar um horizonte mais colorido em Back To The Future II (título original).
Bob Gale, roteirista do filme ao lado de Zemeckis, afirmou que eles passaram anos tentando dar o pontapé inicial da franquia porque muitos estúdios não a achavam promissora. Segundo Gale, a resposta dos executivos ao se deparar com sua ideia era: "muito legal, muito adorável, mas leve isso para a Disney". Quando eles encontraram com produtores da Disney, o estúdio do Mickey recusou o projeto por achar polêmica demais a atração que Lorraine, no primeiro De Volta Para o Futuro, sente por Marty McFly, que é seu filho, mas ela não sabe.
Cinco anos depois de receber um não de todos os maiores estúdios de Hollywood, o projeto finalmente saiu do papel após o sucesso de Tudo Por Uma Esmeralda (1984), de Zemeckis, que convidou Steven Spielberg para produzir De Volta Para o Futuro com a Universal Pictures.
No geral, o segundo longa-metragem da franquia — que também ganhou uma série de desenho animado, HQs publicadas pela Harvey Comics, livros com versões romanceadas dos filmes, jogos de video game e está às vésperas de ganhar um musical para o teatro — foi visto como inferior ao primeiro, com uma recepção menos calorosa da crítica e uma quantia arrecadada nas bilheterias menor do que a do filme original. Ainda assim, o longa não para de conquistar uma nova geração de admiradores.
Zemeckis não era muito fã da ideia de representar o futuro nos cinemas porque temia fazer previsões equivocadas. "Eu sempre odiei e ainda não gosto de filmes sobre o futuro. Eu acho que eles são impossíveis", afirmou o cineasta em determinada ocasião. "Então, ao invés de tentar fazer uma previsão científica sobre o futuro que nós provavelmente iríamos errar de qualquer maneira, nós pensamos em fazer algo simplesmente divertido", avaliou o diretor em outro momento. Para Gale, o importante era usar os recursos que seriam mais interessantes na tela: "Nós sabíamos que não haveriam carros voadores no ano de 2015, mas meu Deus, nós tinhamos de tê-los no nosso filme" (Inicialmente, a máquina do tempo de McFly e Doc seria feita com uma geladeira, mas os roteiristas decidiram usar um carro da marca DeLorean por conta de seu design incomum. O veículo se tornou um dos mais famosos da história do cinema).
Apesar disso, muitas previsões foram acertadas, tanto em áreas técnológicas quanto em áreas sociais. O longa mostra televisões grandes de tela plana com capacidade de exibir diversos canais ao mesmo tempo, chamadas de vídeo, o aumento da popularidade de cirurgias plásticas, jogos de videogame que (assim como Xbox Kinect) não precisam de joystic, o aumento da influência da cultura asiática nos Estados Unidos, óculos de realidade virtual (que ainda não são muito populares, mas podem ser a próxima tendência na tecnologia voltada para entretenimento), relógios inteligentes que nos dão diversas informações em tempo real (como o relógio de pulso que informa as condições do clima para o Dr. Brown), o reconhecimento digital de identidade, entre outras coisas.
A aposta do skate voador, responsável por uma das sequências mais divertidas e lembradas do segundo filme da franquia, se cumpriu em termos. Apesar do comercial da Lexus mostrando um hoverboard flutando em uma pista de skate, a tecnologia ainda não avançou o suficiente para funcionar em qualquer terreno. O equipamento ainda necessita de uma superfície especial para funcionar, assim como o produto rival da marca Hendo. Outra empresa que trouxe para a realidade um elemento do filme foi a Pepsi, que aproveitou para lançar uma edição especial e limitada da bebida Pepsi Perfect, vista em De Volta Para o Futuro II.
A décima nona sequência Tubarão sequer foi produzida (ufa!), mas a Universal lançou um trailer falso do filme de terror que impressiona Marty McFly no 2015 fictício. No sentido literal, essa previsão falhou, mas analisando bem, ela pode ser encarada como acertada no que tange a tendência de Hollywood de investir em sucessivas sequências de franquias famosas para se manter na zona de conforto. Outra tendência que foi antecipada de maneira correta foi o domínio do formato 3D, que faz sucesso atualmente, para a alegria de uns e desgosto de outros.
Falando em sequências, é improvável que um dia vejamos um reboot ou remake da franquia Back To The Future. "Você tem que ser cuidadoso quando faz uma sequência ou um prelúdio, porque a questão toda é a história. Você não pode simplesmente fazer a mesma história de novo e de novo. Acho bom ter sequências, mas elas têm que ser um filme em si também... fico contente de ver coisas como Jurassic [World], como [a franquia] Bourne. Não acho que veremos outro De Volta Para O Futuro... acho que está encerrado", comentou o produtor Frank Marshall.
Onde estão Marty McFly e Doc Brown?
Michael J. Fox teve o auge de sua carreira nos filmes da franquia Back To the Future, mas chegou a estrelar alguns sucessos posteriores, como Dr. Hollywood - Uma Receita de Amor (1991) e Os Espíritos (1996), que não foram campeões de bilheteria, mas receberam boas críticas.
Experiente em séries de TV, como visto na comédia familiar Caras e Caretas (1982 - 1989), Fox voltou ao formato nos anos 90, quando estrelou a comédia Spin City (1996–2002), que lhe rendeu três prêmios no Globo de Ouro, um Emmy e um prêmio do SAG Awards. Durante a terceira temporada de Spin City, Fox contou para os seus colegas que era portador da doença de Parkinson e deixou a carreira de ator um pouco de lado para focar no tratamento da enfermidade (que não tem cura) e passar mais tempo com sua família.
Apesar disso, anos depois o ator se manteve na ativa fazendo pontas em séries como Scrubs (em 2004), Boston Legal (entre 2005 e 2006) e Rescue Me (em 2009, numa atuação que lhe rendeu um Emmy de melhor ator convidado em série de drama). Ele interpretou a si mesmo na comédia Curb Your Enthusiasm (em 2011), de Larry David, e uma versão de si mesmo em The Michael J. Fox Show (2013-2014).
Após viver o cientista louco Dr. Brown, Christopher Lloyd manteve uma prolífica carreira, que já conta com quase 200 créditos em filmes e séries de TV. Um de seus personagens mais famosos de lá pra cá foi o Tio Chico, em A Família Addams e A Família Addams 2. Lloyd ainda atuou em filmes como o drama policial Coisas Para Fazer em Denver Quando Você Está Morto (1995), dublou Rasputin na animação Anastasia (1997), atuou na comédia sci-fi da Disney Meu Marciano Favorito (1999), na criticada comédia Bebês Geniais (1999), e mais recentemente no suspense neo-noir Sin City: A Dama Fatal (2014). Ele ainda interpretou uma versão de Doc em uma ponta na comédia Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola.
Além da colaboração em De Volta Para o Futuro 3 (que foi rodado junto com De Volta Para o Futuro 2 para reduzir os custos da produção), Lloyd chegou a contracenar mais uma vez com Fox no episódio "Back to the Future IV - Judgment Day" (1999) de Spin City e no filme Interstate 60: Episodes of the Road (2002).
Celebrando o dia 21/10/2015
É claro que uma data como essa não passaria em branco. Diversos cinemas no mundo irão reexibir filmes da trilogia original. No Brasil, 19 cidades do país terão sessões especiais da saga completa de De Volta para o Futuro.
No Rio de Janeiro, a festa oficial "De volta para o presente", organizada pela Universal Pictures, será realizada no Cine Odeon, uma das quatro salas de cinema na Cidade Maravilhosa a exibir uma maratona com a trilogia completa (confira os horários das sessões dos três filmes da franquia De Volta Para o Futuro em todo o Brasil aqui). Haverá a exibição de depoimentos do elenco principal que foram gravados para o evento, sorteios e prêmio para o melhor cosplay do filme.
Nos Estados Unidos, será lançado o documentário Back in Time, que foi financiado por fãs e irá abordar o impacto cultural da trilogia com depoimentos de J. Fox, Lloyd, Zemeckis, Gale, Lea Thompson e Dan Harmon e outras personalidades responsáveis pelo sucesso da franquia. O longa-metragem é dirigido por Jason Aron.
Lançado no Brasil pela DarkSide Books, chega às livrarias o livro "De Volta para o Futuro - Os Bastidores da Trilogia", de Caseen Gaines, pesquisador de cultura pop que reuniu mais de 500 horas de depoimentos de pessoas importantes na criação da franquia em sua pesquisa.