A terceira noite da mostra competitiva do 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro trouxe filmes sobre a solidão. Nos curtas-metragens Cidade Nova, Copyleft e no longa-metragem Para Minha Amada Morta, três homens muito diferentes lidam com a perda (das raízes, da identidade, da pessoa amada) de modo inesperado e violento, especialmente de caráter sexual.
De modo geral, esta foi mais uma noite de qualidade mediana para o festival, que ainda está aguardando um grande favorito, tanto nos curtas quanto entre os longas-metragens.
O filho pródigo
Cidade Nova traz a história de João, jovem adulto que retorna à pequena cidade onde nasceu, depois de muitos anos sem visitar o lugar. Ele encontra um mundo de silêncios que não remetem aos elementos da sua infância. Diante desta dor, ele se envolve rapidamente com a recepcionista do hotel, numa cena de violência sexual.
O diretor Diego Hoefel trabalha bem a sensação de vazio do protagonista, com a ajuda da boa atuação de João Campos. É uma pena que a construção eficaz seja sabotada pelo final abrupto. A história promissora termina antes de dizer a que veio.
Política do grito
Já Copyleft foi o filme-choque do festival, o tipo de obra controversa que todo evento gosta de ter para aumentar o burburinho nos corredores. O diretor Rodrigo Carneiro subiu ao palco com um longo discurso sobre os assassinatos homofóbicos, lesbofóbicos e transfóbicos, sugerindo políticas governamentais e individuais contra esta realidade. "Ergam seus paus e abram seus orifícios", bradou para o delírio do público, que aplaudiu o discurso de pé.
O filme, no entanto, calou a plateia ruidosa. Em 29 longos minutos, Carneiro apresenta um homem em crise de identidade sexual e de gênero. Ele busca medicamentos "virilizantes", penetra-se com um vibrador, busca o suicídio. É uma estrutura fragmentada, pop e caseira, feita de gritos, de frases de efeito, sem propor uma reflexão intelectual minimamente sofisticada. Trata-se de um filme que pretende vencer o debate falando mais alto que seu interlocutor. Fica a dúvida sobre os motivos que levaram uma obra tão desconexa e amadora a ser selecionada pelo festival.
Luto e vingança
Para Minha Amada Morta marca a segunda passagem de Aly Muritiba à direção de longas-metragens, após trabalhos ótimos como O Pátio e Tarântula. Infelizmente, o resultado decepcionou: a trama sobre um homem em luto, querendo se vingar do amante de sua falecida esposa seduzindo a esposa deste, está repleta de diálogos explicativos e cenas sem tensão, que tornam a experiência tediosa.
O filme prepara o espectador para um grande conflito, um embate entre os dois homens, mas Muritiba suspende os momentos fortes, investindo no drama ao invés do suspense. O resultado pareceu uma preparação, como se Muritiba estivesse tateando o terreno para algum projeto mais ousado no futuro. Para Minha Amada Morta, apesar de morno, deve ser reconhecido por suas qualidades técnicas.
Leia a nossa crítica.
Depois de apresentar o cinema cheio em todas as suas sessões da mostra competitiva, o Festival de Brasília deve ter sua noite mais concorrida neste sábado, com a exibição de Big Jato, de Cláudio Assis, além do premiado curta-metragem Quintal e do curta local Afonso é uma Brazza.