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    Festival de Toronto 2015: Brasileiro dirige Gael Garcia Bernal em filme que mistura Charlie Kaufman e Waking Life

    “Quem for ver o filme buscando uma autenticidade brasileira vai se decepcionar”, avisa o diretor Pedro Morelli, sobre Zoom.

    Divulgação

    Antes da sessão de gala de Zoom, em estreia mundial nessa terça-feira, no Toronto International Film Festival 2015 (TIFF), o produtor do filme, o canadense Niv Fichman, avisou à plateia: “Não se assustem, vocês vão ver as logos de todos os patrocinadores brasileiros. São umas duzentas”. A brincadeira faz sentido - e diz muito da maneira de se fazer cinema no Brasil. Afinal, nós estamos acostumados – eles, não.

    Divulgação O2

    Pedro Morelli (Entre Nós), o diretor, não vê nenhum tipo de contradição no uso de dinheiro público tupiniquim na realização do filme (via incentivo fiscal, com orçamento de 5 milhões de dólares canadenses, algo em torno de R$ 14,5 milhões), com os atores como Gael García Bernal, Alison Pill (Meia-Noite em Paris) e Jason ‘Barrados no Baile’ Priestley, pelo time gringo; Mariana Ximenes e Claudia Ohana, entre o elenco brasileiro.

    “Todo o dinheiro capitado no Brasil foi gasto no Brasil. [O filme] Teve mais filmagem no país [em São Paulo, Rio de Janeiro e na cidade de Trindade, no estado do Rio] do que no Canadá. É uma coprodução [Brasil-Canadá]. A encomenda era fazer um filme em [falado em] inglês. E é interessante para o cinema brasileiro abrir essa porta e se comunicar mais com o mundo”, declarou em entrevista ao AdoroCinema, na sede da Rhombus Media, braço canadense do filme, no centro de Toronto.

    De volta para o passado.

    Em 2007, Pedro, aos 21, trabalhou como assistente de direção em Ensaio Sobre a Cegueira (primeira parceria entre Rhombus e O2 Filmes de Fernando Meirelles, que se repete agora). Dois anos depois, Fichman, disposto a apostar em novos talentos, se ofereceu para produzir um primeiro trabalho solo do brasileiro. Com uma recomendação, algo como: “mas você tem que pirar”. No Scotiabank Theatre, Niv recordou sua orientação: “Não há crime em fazer um filme engraçado. ‘No favelas’”.

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    A carta branca resultou em um longa-metragem com três histórias paralelas que se cruzam numa mistura de live-action com animação. Enquanto Emma (Pill) se submete a uma cirurgia para aumentar os seios, desenha uma graphic novel na qual um cineasta, Edward (García Bernal), pretende dirigir um projeto mais "profundo", tendo como protagonista uma modelo (Ximenes) que está escrevendo um livro sobre uma garota insatisfeita com o tamanho de seus seios, que... ou seja, uma mistura de Adaptação (2002), de Charlie Kaufman (inspiração declarada do diretor), no conteúdo, com a forma de Waking Life (2001).

    O argumento original partiu do próprio Pedro: “A gente já tinha essa ideia da 'escadaria do Escher', em que você sobre e chega no mesmo lugar, num ciclo meio nonsese, mas não era tão forte”.  Foi aí que Niv sugeriu a contratação do também estreante Matt Hansen – escritor que trabalhou na Marvel Comics – para dar forma ao roteiro.

    Cada um com seus problemas.

    Paulo Morelli

    Todos os personagens, claro, têm seus problemas. Quando o implante de Emma resulta grande demais, ela pretende desfazer a cirurgia; Edward, de repente se vê com um pênis pequeno demais; enquanto Michelle é considerada pelo namorado (Priestley) “bonita” demais para a literatura, e foge para o Brasil.

    “O que eles têm em comum é que todos estão procurando ser algo que não são, querem agradar às pessoas, só porque existe um padrão estabelecido. Por mais que a gente tenha consciência disso, a gente quer se encaixar numa prateleira. E eu me identifico com isso”, confessa Morelli.

    Feito à mão.

    Todo o segmento de Gael foi animado em rotoscopia, técnica na qual o modelo vivo em ação é usado como referência. Um trabalho que envolveu cerca de 25 profissionais (brasileiros), chefiados por Adams Carvalho.

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    “A gente fez 30 minutos de animação assim. A única diferença para o Waking Life é que eles usam uma outra técnica também, que se chama tweening, em que o computador emenda um frame no outro, então, o resultado fica mais fluido. A gente desenhou todos os quadros de fato e deixou ficar flickando [tremendo], o que dá um efeito de feito à mão”, justificou Pedro, que identifica no processo de animação o maior desafio do filme.

    De volta para o futuro.

    Selecionado para o “Vanguard”, mesmo programa do TIFF do qual participa o badalado Love, de Gaspar Noé, Zoom, agora, viaja para o Fantastic Fest, na cidade de Austin (EUA), passa por Sitges Film Festival, na Catalunha (Espanha) e segue para o Festival do Rio e Mostra São Paulo.

    No Brasil, quem alerta, desta vez, é o próprio Morelli: “Quem for ver o filme buscando uma autenticidade brasileira, vai se decepcionar. Mas as pessoas que estiverem com a cabeça aberta, para ver uma produção pop internacional com um diretor brasileiro, podem se divertir muito”.

    Confira uma cena (no original):

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