Foi dada a largada ao 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, e a abertura não poderia ser melhor. O sempre carismático e eloquente Vladimir Carvalho recebeu um Candango honorário por sua carreira, e relembrou sua trajetória, desde a descoberta do amor pelo cinema ao assistir O Homem de Aran (1934), de Robert Flaherty, até a luta para driblar a censura durante a ditadura militar.
O veterano agradeceu ao festival, dizendo estar "com a alma em festa e o coração aos pulos", não só pelo troféu, mas também pela presença de Um Filme de Cinema na noite de abertura. Vladimir Carvalho compartilhou sua história familiar, admitindo ter criado o cineasta Walter Carvalho: "O pai que ele não conheceu, fui eu. O Walter foi o filho que eu não tive. Tenho o maior orgulho dele". Os dois dividiram o palco num momento emocionante.
Apesar do tom sentimental, o humor temperou a cerimônia de abertura. Aos 80 anos de idade, Vladimir Carvalho admitiu que "não dá para ter falsa modéstia", afirmando que o reconhecimento foi "até retardatário", e soltou um "Eu mereço, Brasília!", despertando aplausos gerais. Já Walter Carvalho fez apenas um pedido à plateia: "Gostem do filme!".
De fato, existe muito de que gostar em Um Filme de Cinema. O documentário reúne alguns dos maiores cineastas brasileiros (Ruy Guerra, Júlio Bressane) e internacionais (Béla Tarr, Jia Zhang-ke) para discutir cinema. Mas o questionamento não é tanto sobre o amor pela sétima arte, e sim pelos aspectos teóricos da linguagem cinematográfica. Os entrevistados discutem questões de representação, a verdade no uso do dispositivo, o uso expressivo do som, a importância da subjetividade e outros temas dignos de uma aula de estética. Profunda e densa, talvez a obra não seja palatável ao público médio, mas é certamente uma ótima escolha para começar o festival.
A segunda noite traz o início da mostra competitiva, com a exibição do longa-metragem A Família Dionti e dos curtas-metragens Command Action e À Parte do Inferno.