É difícil abordar a homofobia no cinema sem apelar para o maniqueísmo, ou para o pensamento didático. Muitos filmes de temática gay tendem a vilanizar todas as pessoas preconceituosas, mas o belo Land of Storms, apresentado na competição oficial do Rio Festival Gay de Cinema, oferece um retrato bastante complexo da aversão aos gays.
Nesta história, Szabolcs (András Sütö) e Áron (Ádám Varga) são dois jovens que se conhecem por acaso, em um pequeno vilarejo na Hungria. A proximidade cada vez maior entre eles desperta diversos tipos de preconceito, mais ou menos explícitos, da família e dos amigos. Para piorar a situação, o próprio Áron não aceita os sentimentos que começa a desenvolver pelo colega.
O filme se desenvolve com calma: o diretor Ádam Császi mostra cada hesitação, cada beijo, cada arrependimento. A fotografia é belíssima, aproveitando muito bem a natureza cinzenta e meio triste do local. Talvez o final decepcione um pouco, mas Land of Storms foi provavelmente a melhor surpresa do festival até agora. Uma história de amor madura e questionadora.
Já One Deep Breath é o segundo longa-metragem do diretor Antony Hickling no Rio FGC, após o subversivo Little Gay Boy. Desta vez, o filme é menos controverso, mas apresenta metáforas artísticas semelhantes àquelas vistas no título precedente. A trama gira em torno de um triângulo amoroso: quando Adam morre, seu namorado e sua amante disputam as lembranças do falecido.
Diversas cenas são plasticamente interessantes (como as carícias que se transformam em tapas), mas o conflito em si demora a deslanchar. Para uma obra de claras pretensões narrativas, One Deep Breath deixa tantos fios soltos que alguns espectadores pareciam confusos na sessão. Mesmo assim, a poesia de Hickling rende seus frutos.
O Rio FGC continua nesse domingo com os longas-metragens Summer, Pierrot Lunaire, Boys, Fulboy e Para Sempre Teu Caio F. Descubra todas as informações sobre os filmes, os horários, os preços de ingressos e locais de exibição na página oficial do festival.