Análise: Por que a Marvel não vai fazer um filme solo do Hulk

Imbróglios contratuais atrapalham, mas é a desconfiança do próprio estúdio que impede a aposta no Gigante Esmeralda.

O Hulk ocupa um lugar cinzento no Universo Cinematográfico Marvel. Ao surgir esmagando em Os Vingadores - The Avengers, o Gigante Esmeralda caiu nas graças do público, que desde então não cansa de fazer a pergunta que não cala: cadê o filme solo do Hulk? Intérprete do personagem, Mark Ruffalo foi a público recentemente responder à questão, revelando que pouco sabe sobre o caso.

"Quanto a um filme de Hulk, um filme solo do Hulk, a Marvel ainda não tem os direitos para isso. Isso [o filme] ainda é propriedade da Universal, então, há esse problema. Este é um grande impedimento em seguir em frente com isso [o filme]. Eu não acho isso insuperável, a propósito, mas eu também não sei aonde isso vai dar."

O ator está parcialmente correto quanto ao motivo. Na verdade, o cenário é tão mais amplo e complexo que é necessária uma análise mais aprofundada, baseada em fatos e evidências, aberta a possibilidades e sem um veredicto concreto. Antes, porém, comecemos pelo começo, explicando e corrigindo o que Mark Ruffalo disse sobre os direitos do Incrível Hulk.

Após o fracasso do Hulk de Ang Lee a Universal não iniciou a produção de uma sequência dentro de dois anos, até 2005, o que provocou o retorno automático dos direitos de produção de um longa-metragem do personagem para a Marvel. Portanto, os direitos ainda detidos pela Universal se limitam à distribuição dos filmes do Hulk. O que de fato cria um imbróglio, mas não um impedimento.

Alguns dos primeiros filmes do UCM não tiveram como parceiro de distribuição a sua atual casa, Walt Disney; Homem de Ferro, Homem de Ferro 2, Thor e Capitão América: O Primeiro Vingador foram todos distribuídos pela Paramount. Ou seja: quando foi de seu interesse, a Marvel fechou parcerias. Da mesma forma, o estúdio poderia comprar os direitos junto à Universal, que não tem nenhum lucro de distribuição com o personagem. Em português claro, a Marvel simplesmente não quer fazer um novo filme solo do Hulk. Ponto.

Ciente disso, a Forbes enumerou três principais motivos para essa opção. São eles, comentados:

1) Os filmes anteriores do Hulk, recentes, tiveram um retorno de público e crítica bem inferior aos dos outros filmes da Marvel, sendo um risco desenvolver um novo filme do super-herói.

Contra fatos, não há argumentos: Hulk (2003) fez apenas US$245.3 milhões, quantia que mal cobriu seus custos de produção (US$137 milhões) e marketing. O Incrível Hulk (2008) foi mais bem recebido pela crítica do que seu antecessor, mas detém a pior bilheteria do Universo Cinematográfico Marvel: US$263.4 milhões, bem menos que os também "modestos" US$370.5 milhões de Capitão América: O Primeiro Vingador.

2) O Hulk parece funcionar melhor como um curinga do que como personagem central com um filme próprio.

Em outras palavras: Hulk é um coadjuvante. A afirmação é polêmica, mas faz sentido se pensarmos que essa é a indiscutível posição da Viúva Negra (Scarlett Johansson) e do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) na superequipe (algo inclusive abordado em Vingadores: Era de Ultron, aprofundando os dilemas de Clint Barton), e nenhum deles tem filme solo pelo mesmo motivo. Nesse sentido, é incontestável que Bruce Banner recebe da Marvel o mesmo tratamento dispensado a Clint e Natasha.

3) Reimaginar o Hulk como nada mais que um monstro furioso não impressionou o público nos filmes anteriores.

Isso já não faz mais sentido, dada a abordagem do personagem em suas duas últimas aparições no UCM: de um lado, as questões éticas e morais de Bruce Banner; de outro, um Hulk já não tão descontrolado, que se transforma quando quer no clímax de Os Vingadores e "dialoga" com Natasha em Vingadores 2. A receita funcionou, tornando o personagem versátil (ora um sujeito complexo em carne e osso, ora a personificação da fúria em CGI) e um dos mais queridos do supergrupo - um fato positivo que parece pesar contra o personagem.

Este paradoxo parece guiar as decisões da Marvel. Investir centenas de milhões num longa-metragem do Hulk é um risco isolado; reconhecer no personagem um trunfo dos Vingadores, e que um filme próprio poderia desgastá-lo, torna a aposta ainda mais arriscada. Assim, dificilmente a Marvel irá rever tal escolha, principalmente depois que Homem-Formiga, Pantera Negra e Capitã Marvel foram anunciados e Guardiões da Galáxia foi estabelecido como uma nova franquia de sucesso. Em time que está ganhando não deverá se mexer.

Ao fã do Hulk, um alento: se Homem de Ferro, Thor e Capitão América, os três super-heróis cujos longas serviram como base para o Universo Cinematográfico Marvel, podem estar com os dias contados, o Hulk poderá seguir como um personagem recorrente do UCM por muitos Vingadores e filmes solos. Porém, daquele jeito: sempre como um coadjuvante de luxo.