Um dos maiores clássicos da história do cinema brasileiro, Limite, de Mário Peixoto, foi exibido na noite desta sexta-feira, 19 de junho, na Mostra de Cinema de Ouro Preto - CineOP. O público pôde conferir uma cópia recém-restaurada numa parceria entre a Cinemateca Brasileira e a Cineteca di Bologna, num trabalho financiado pela World Cinema Foundation, de Martin Scorsese, após iniciativa de Walter Salles.
Após a sessão, o AdoroCinema conversou com Hernani Heffner, curador da sessão histórica do CineOP e conservador-chefe do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. "O filme foi realizado em 1930. Houve uma sessão clássica no cinema Capitólio, em maio de 31. Depois ele passou esparsamente para convidados ou no cineclube da Faculdade Nacional de Filosofia, de 1946 a 1959, uma vez por ano. Em 59, o professor que era organizador dessas sessões, o Plínio Süssekind Rocha, avaliou que a única cópia existente do filme, que era uma cópia em nitrato, já estava se degradando. Ele já não se sentia bem de saúde e encarregou um de seus alunos, que era o Saulo Pereira de Mello, de tentar salvar o filme. E o Saulo tomou aquilo como uma missão mais que religiosa e elaborou toda uma estratégia para conseguir recursos para esta tentativa. Os recursos surgem em 64 e ele começa uma restauração no ano seguinte extremamente minuciosa e consegue transformar essa cópia em nitrato em um contratipo em acetato. Este contratipo foi sofrendo ajustes e, finalmente, em 79 foram feitas novas cópias. Aí o filme foi descoberto, ganhou fama e se tornou um dos mais elogiados da história do nosso cinema. Mas ainda havia uma série de questões, como o som, e o filme ainda precisava ser modificado para se chegar mais próximo do original. E isso se tentou no momento em que o Walter Salles se encantou com o filme. Primeiramente, ele mesmo tentou restaurar o longa, no ano 2000, mas era a primeira restauração digital feita no Brasil e o resultado decepcionou bastante. Mas o Walter insistiu e inscreveu o Limite no World Cinema Foundation, do Scorsese", afirmou Hernani.
Professor de História do Cinema na PUC-RJ, Heffner falou ainda sobre o que faz do longa um marco: "Limite é um filme mítico, chegou a ser considerado desaparecido. Essa restauração do Saulo era lendária pois levou mais de uma década e o filme não aparecia. Quando apareceu causou um impacto profundo, mas também os problemas que carregava ficaram muito visíveis. E acho que ainda são, mesmo com a intervenção digital. Talvez indique aí um limite impossível de ser transposto."
Ainda dentro do foco em preservação do CineOP, foi exibido na noite de sexta o longa Também Somos Irmãos (1949), que foi um dos primeiros trabalhos de Grande Otelo. O drama é muito atual, retratando a questão do racismo na sociedade brasileira. Para fechar a noite, o público pôde conferir o recente Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós.
O AdoroCinema viajou a convite da organização da mostra.