"Quando eu comecei a pensar no filme, comecei a pensar também de que jeito a violência não tem sido representada, pelo menos na Colômbia. E pensei que [através do] o cotidiano era um jeito diferente de ver essa violência". Assim o cineasta Jorge Forero introduziu o seu longa-metragem, Violencia (Violência) - exibido no último Festival de Berlim -, em um bate papo com a plateia logo após a projeção do longa-metragem, em caráter competitivo, dentro da programação do 4º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba.
Dividido em três episódios, o filme acompanha o cotidiano de um prisioneiro (ao que tudo indica) das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) no meio da mata (a violência de guerrilha); um jovem desempregado que acaba caindo em uma armadilha (violência de estado); e o dia a dia do chefe de um grupo armado (violência paramilitar).
O que se vê na tela é a rotina (por mais simples que seja) de cada um, no tempo da ação. Uma sucessão de planos-sequência, praticamente sem diálogos, inseridos em um registro quase documental da vida dos personagens. Essa opção, Forero - produtor de El Abrazo de la Serpiente (O Abraço da Serpente), vencedor do prêmio Art Cinema da Quinzena dos Realizadores no último Festival de Cannes - explica: "representar a violência de um jeito plástico, de um jeito estético, é uma necessidade de não justificar, não julgar, e só conseguir assistir à vida cotidiana".
Ele denuncia uma grave realidade de seu país: "o estado começou a matar garotos para apresentá-los como guerrilheiros mortos em combate. Mas tem um lado da população que acha que isso... que eles [os garotos] não fazem nada, podem virar ladrões..." A solução, por mais complexa que seja, e Jorge reconhece, está "no cotidiano também: na cordialidade com o motorista de táxi, com a vendedora de loja, em ter filhos com melhores valores. É pouco a pouco. Perdoar é a coisa mais importante para fazer a mudança".
A ironia é que, apesar do título, não há conflito em Violencia, o que enfraquece o potencial impacto do filme.
Judas é coadjuvante. De novo.
Também pela competitiva, o AdoroCinema acompanhou a exibição de Histoire de Judas (História de Judas), que, o contrário do que prega o título, trata-se de uma história sobre... Jesus (ele de novo).
Com ares de superprodução para o cinema de autor (locações externas grandiosas, direção de arte e figurino caprichados), o longa (mais um francês) aborda o período logo anterior à crucificação do Todo-Poderoso. Estão lá os episódios de Maria Madalena ("quem não tem pecado..."), do julgamento pelos romanos (aquele em Pôncio Pilatos lava as mãos). Ao lado de Jesus, apenas um apóstolo tem destaque. Sim, Judas, que atua como um leão-de-chácara do Senhor que, no entanto, tem muito mais "tempo de tela" do que aquele que ficou conhecido como o maior traidor de todos os tempos.
A obra do argelino Rabah Ameur Zaimeche não traz nada que justifique uma (mais uma) refilmagem de uma das histórias (ou pelo menos um trecho dela) mais conhecidas da História da humanidade.