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    Olhar de Cinema 2015: Documentarista é personagem involuntária de filme sobre revolução no Egito

    Estreante no cinema, Anna Roussillon, consegue traçar um panorama da recente "revolução", que vai além do trivial.

    Anna Roussillon nasceu no Líbano, foi criada no Egito e formada na França (em filosofia, linguística, linguagem, literatura e civilização árabe e cinema documentário). Seu primeiro filme, Je Suis le Peuple (Eu Sou o Povo), exibido agora na mostra competiva do 4º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, mescla um pouco de todo esse background, ao abordar a agitação política sentida no entorno (efetiva e simbolicamente) da Praça Tahrir, que teve consequências históricas não só para o país, mas para toda a região ao redor.

    Inserido no contexto da Primavera Árabe (onda de protestos que, desde o fim de 2010, visam a mudar as condições de exploração de países do Oriente Médio e no Norte da África), o evento, embora recente, já foi explorado algumas vezes no cinema, incluindo aí A Praça Tahrir (The Square), que concorreu ao Oscar 2014 de melhor documentário.

    Pamela Pianezza

    A primeira grande sacada de Anna está no ângulo. Ela levou à máxima o preceito atribuído ao escritor russo Liev Tolstoi de que "se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia", para falar da "revolução" a partir de uma aldeia de camponeses. Para isso, acompanhou a reação de uma família pobre - num lugar onde a massa do pão descansa na cama, enquanto para as crianças sobra o chão duro - ao noticiário da TV, distante geograficamente do epicentro dos confrontos, ao longo de dois anos.

    O longo período vai de janeiro de 2011, quando os rebeldes tomaram a praça, à ascensão e queda do governo Mohamed Morsi (o primeiro presidente civil do Egito eleito democraticamente que, em princípio, parecia ser a solução da lavoura, mas que se mostrou tão ditatorial quanto seu antecessor Hosni Mubarak, há 30 anos no poder). Tempo o suficiente para registrar a história acontecer.

    Mas o "pulo do gato" de Je Suis le Peuple se dá mesmo nos embates entre Anna (estrangeira bem intencionada) e seus entrevistados, sobretudo o chefe da família, com quem tem uma calorosa discussão sobre "colonização". Se era intenção da diretora se fazer presente (ela não aparece, a não ser pelo áudio) desde o início do projeto, ela não esteve em Curitiba para explicar, mas não deixa de ser uma opção corajosa, sobretudo quando é confrontada. Pode ser que as opiniões libertárias de Anna tenham contaminado a avaliação do homem sobre seu próprio país; mas também pode ser que ele seja bem menos influenciável do que se imaginaria inicialmente.

    Ao mesmo tempo, a D-Rex de Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros, ameaçava feroz os humanos que compareceram à reabertura do parque na sala ao lado, no Cinesystem Shopping Curitiba. O som vazado não combinou.

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