Foi russo. Mas bem que o diretor poderia estar "falando grego". Com Angely Revolucii (Anjos da Revolução), teve início a mostra competitiva da 4º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, na noite da última quinta-feira.
O filme do cineasta dissidente Aleksey Fedorchenko, que estreou na última edição do Festival de Roma, é uma obra bonita e extraordinária (no sentido de fora do comum), mas de difícil assimilação, até mesmo para os padrões do cinema de autor.
A começar pela sinopse oficial divulgada pela organização do festival: "O ano é 1934. Há algo de podre no norte da URSS: xamãs (sacerdotes nativos) de duas populações indígenas, Khanty e Nenets, não querem aceitar as novas ideias. Para conciliar essas duas grandes culturas, a Vanguarda da Rússia e o Paganismo Tradicional, seis artistas metropolitanos viajam para as florestas primitivas ao redor do grandioso rio siberiano: um compositor, um escultor, um diretor de teatro, um arquiteto Construtivista, um diretor de cinema Primitivo e o chefe da unidade – o famoso 'Polina da Revolução'”.
Baseado em fatos reais, fica difícil apontar o que seria realidade e o que seria folclore na obra ficcional. O que não é necessariamente negativo (pelo contrário). O apelo visual é certamente um atrativo do filme, lindamente fotografado, com tons vibrantes e um enquadramento simétrico que, em algum ponto, lembra a forma de filmar do cineasta Wes Anderson, para citar uma referência conhecida. Mas certamente se trata de uma narrativa ousada, que talvez mereça uma segunda projeção.