Desde o primeiro filme com som da história do cinema brasileiro — a comédia Acabaram-se os Otários (1929), que trouxe o clássico choro "Carinhoso", de Pixinguinha — a música teve um importante papel na sétima arte nacional. Sendo a música popular um dos maiores bens culturais do Brasil, seria inevitável que o casamento de nossas melodias com a narrativa cinematográfica rendesse muitos frutos memoráveis. Por isso, esta matéria especial relembra algumas das canções mais marcantes do cinema brasileiro, de Orfeu Negro à Tropa de Elite.
"Agora, que faço eu da vida sem você? / Você não me ensinou a te esquecer / Você só me ensinou a te querer / E te querendo eu vou tentando te encontrar"
Filme: Lisbela e o Prisioneiro (2003)
Música: "Você Não Me Ensinou a Te Esquecer"
Intérprete: Caetano Veloso
Compositor: Fernando Mendes / José Wilson
A comédia romântica Lisbela e o Prisioneiro, de Guel Arraes, não foi o segundo filme brasileiro mais visto em 2003 à toa. O longa-metragem conquistou os espectadores com uma história de amor repleta de metalinguagens cinematográficas que trouxe uma boa química em cena entre o casal principal formado por Débora Falabella e Selton Mello. Entretanto, uma das maiores marcas registradas do filme é a sua trilha sonora, que teve a curadoria de André Moraes e João Falcão e artistas como Los Hermanos, Zé Ramalho e Sepultura.
Dentre as canções do longa, a que ganhou o maior destaque foi a balada romântica "Você não Me Ensinou a Te Esquecer", eternizada na voz de Caetano Veloso. Apesar de ter composto centenas de músicas em suas cinco décadas de carreira, a faixa não é da autoria do artista baiano, mas sim do cantor brega Fernando Mendes, que a escreveu em parceria com o também cantor José Wilson.
A música é tocada em diversos momentos do filme, incluindo quando Leléu se declara para Lisbela no cinema e quando Lisbela vai visitar Leléu na prisão. Ainda vestida de noiva, ela vai à cadeia para se despedir de Leléu, que por sua vez tenta convencer a mocinha a não se casar com Douglas (Bruno Garcia), um homem que ela não ama. A cena ganha um tom ainda mais dramático quando o casal dá o que seria um beijo de despedida enqunto se ouve Caetano entoar os versos "Você bem que podia perdoar / E só mais uma vez me aceitar / Prometo agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la".
A versão de Caetano Veloso para a canção serviu para apresentar o artista para uma nova geração de ouvintes. Para se ter noção da repercussão da faixa, dentre todos os vídeos relacionados ao cantor e compositor no YouTube, o que conta com o maior número de execuções é justamente a versão de Caê para "Você Não Me Ensinou a Te Esquecer", com 3,5 milhões de acessos. A música concorreu ao Grammy Latino de Melhor Canção Brasileira em 2004.
Em entrevista para um jornal de Manaus, Fernando Mendes, intérprete original da canção, afirmou que a música só entrou para o filme por ter marcado a vida de duas pessoas da equipe do longa-metragem. "Foi um casal que trabalhou na produção que fez a sugestão de colocar [a música]. Foi por conta da história deles, que se casaram por causa da música. Eu já havia autorizado duas canções minhas para dois curtas-metragens, desta vez foi pra um longa. Eu aceitei de pronto, porque cinema é uma arte que eu adoro."