Uma atriz experiente, outra atriz fazendo os seus primeiros passos no cinema. Uma já conhecia sua personagem desde 2006, quando participou do curta-metragem que deu origem a Permanência, e a outra sequer tinha o roteiro em mãos quando fez os testes de elenco.
Rita Carelli e Laila Pas seguiram caminhos muito diferentes no processo que deu origem ao drama Permanência. Mas ambas impressionaram os jurados do Cine PE 2015, sendo recompensadas como melhor atriz e melhor atriz coadjuvante, respectivamente. A primeira interpreta Rita, desenhista que se apaixonou há muitos anos pelo fotógrafo Ivo (Irandhir Santos). Mas o relacionamento não vingou, e hoje ela está casada com outro homem. Laila Pas interpreta Laís, jovem galerista que se envolve com Ivo.
Permanência foi o grande vencedor do festival, levando também os troféus de melhor filme, melhor ator coadjuvante (Genésio de Barros) e melhor direção de arte (Juliano Dornelles). O drama chega aos cinemas dia 28 de maio. Confira a nossa entrevista exclusiva com as duas atrizes:
Entrando no projeto
Rita Carelli: Este é um projeto bem antigo. O longa-metragem tem origem no longa Décimo Segundo, também de autoria do Leonardo Lacca, comigo e com o Irandhir Santos. A gente filmou em 2006. O curta funciona como uma primeira célula do longa. O Leo já queria desenvolver mais essa história, e o curta acabou tendo uma carreira ótima. Mesmo assim, ele levou cinco anos para viabilizar o projeto, desde a escritura do roteiro, o levantamento do dinheiro e a produção. Eu o Irandhir estávamos no projeto desde sempre, o que foi ótimo! As agendas também deram certo. Este era um projeto muito carinhoso para nós.
Laila Pas: Eu estava trabalhando em uma produtora de cinema, quando o Marcelo Caetano entrou em contato comigo, dizendo que o Leonardo Lacca buscava atrizes para um longa-metragem. Eu fiz teatro, mas ainda não tinha experiência no cinema, e achei a oportunidade maravilhosa. Fiz os testes, sabendo muito pouco sobre o papel, e no final me chamaram para ser a Laís, antes mesmo de eu ter o roteiro em mãos! Eu sabia que teria o Irandhir Santos, alguém que eu admirava muito. Então topei.
Apresentando o filme
Rita Carelli: É um filme sobre duas pessoas que se amam, continuam se amando, mas não ficaram juntas – e nem vão ficar juntas.
Laila Pas: É um filme de personagens, sobre as relações humanas com a ex-namorada, a esposa que a gente nunca vê, com o pai... O personagem do Ivo traz algo universal, com histórias que fecham ciclos. Por um lado, o passado mal resolvido entre ele e a Rita é atemporal, porque em qualquer período da história as pessoas sofrem e amam, e deixam marcas umas nas outras. Por outro lado, é contemporâneo no retrato da vulnerabilidade dos laços atuais, onde novas pessoas sempre aparecem, e todos estão em acesso com outras pessoas o tempo inteiro – algo que faz a gente se perder do mundo. Hoje nós temos mais liberdade, mas também somos mais dependentes uns dos outros.
Referências
Rita Carelli: O Leo trabalha muito com referências de outros filmes, e muito ensaio. Ele é cuidadoso, um excelente diretor de atores. Os diálogos dele são particularmente bons, com falas fluidas, que cabiam na boca. Mas a construção também foi difícil, porque a personagem era muito próxima de mim. A personagem também chama Rita, que é o meu nome! Eu até pedi para ele mudar isso na época, ele pensou no assunto, mas manteve o nome... Quando o personagem é muito próximo, é difícil fazer uma construção.
A personagem era muito parecida comigo no passado, quando eu era adolescente. Mas parece que ela e eu tomamos caminhos muito diferentes. A Rita desenha, e eu também sou ilustradora, o filme usa as minhas fotos pessoais da adolescência... Mas enquanto ela buscou a estabilidade financeira, eu entrei de cabeça no universo artístico. É quase como se ela fosse uma irmã que tomou outro rumo! São experiências preciosas para um ator.
Laila Pas: O Lacca tinha referências estéticas. Para a cena noturna, em que a Laís caminha com o Ivo, ele tinha pensado em Veludo Azul, no momento em que ele imita uma galinha... O roteiro estava pronto, mas ele deixava os atores criarem bastante durante os ensaios. Depois tive um encontro com o Irandhir Santos em uma galeria, pois a minha personagem trabalha neste local, e ele achava importante a gente vivenciar esta experiência. Também vimos a montagem de uma exposição, para compreender o funcionamento. Existiu uma preocupação de aproximar os atores, para além dos personagens.
Assistindo ao filme pela primeira vez
Rita Carelli: Fiquei muito emocionada. Tinha visto um primeiro corte bastante tempo atrás, o que me tranquilizou, mas eu vi o filme transformado no festival do Rio, junto do público. Fiquei estupefata, porque este filme é muito delicado, e era difícil transmitir isso na tela. Acho que o resultado tocou muita gente, porque o Leo conseguiu transpor as emoções dos dois. O filme ficou elegante, com ótima trilha sonora.
Laila Pas: Foram mais de dois anos de expectativa. Eu trabalho como produtora de cinema, então conheço esta demora, mas como atriz, era interessante saber que eu poderia me ver depois. No teatro, existe a experiência na hora, mas não tem registro, o instante acaba. Por mais que uma câmera registre a peça, nunca é a mesma experiência de se ver em cena. Com o cinema, eu não tinha visto imagem nenhuma durante as cenas. Tive uma impressão que a Rita já tinha descrito: quando a gente assiste pela primeira vez, não vemos o filme, mas a nós mesmos. Três vezes depois, comecei a ter o olhar crítico de espectadora.
Trabalhando com Irandhir Santos
Rita Carelli: Eu sou muito amiga do Leo, e também escrevo. Ele abriu o processo, me mandando o roteiro para ler. Eu retornava o texto para ele, e em determinados momentos ajudei a escrever o projeto. Foi uma longa troca ao longo de cinco anos. Fiquei próxima do Irandhir na filmagem de Décimo Segundo, e Permanência marcou um reencontro, então a bagagem emocional desta relação pessoal agregou ao filme.
Laila Pas: Foi a melhor experiência. Ele é um ator maravilhoso, muito experiente, com seu método específico, que é muito diferente do meu. Foi um jogo compreender aquele homem, que às vezes vinha conversar comigo, longe das câmeras, ainda dentro do personagem, como Ivo! Isso foi especial, ver alguém tão comprometido, e busquei vivenciar isso ao máximo.