Cinemas de rua x cinemas de shopping
Salas gigantescas, às vezes com cadeiras de madeira e ventiladores ao invés de ar condicionado... É, assistir a um filme no cinema mudou bastante nas últimas décadas.
O conceito do multiplex chegou ao Brasil ainda na década de 1990, trazendo consigo um conforto até então inédito por aqui. Poltronas acolchoadas, sala no formato stadium, tela e áudio com qualidade impecável. A migração foi paulatina e irreversível, ocorrida ao mesmo tempo em que as salas clássicas iam, pouco a pouco, fechando (ou desmembradas em salas menores). A situação chegou a tal ponto que, no bairro carioca da Cinelândia, não há mais cinemas em funcionamento, já que todos eram de rua.
Diante de tal mudança, o ato de ir ao cinema tornou-se cada vez mais associado aos shopping centers. Muito também devido à séria questão da insegurança nas grandes cidades e os custos reduzidos trazidos pelas salas menores, além da possibilidade de exibir mais filmes em um mesmo espaço físico. Resultado: os cinemas de rua foram minguando cada vez mais e muitos deles viraram igrejas, farmárcias e lojas de todo tipo - ou simplesmente estão abandonados até hoje.
Para se ter uma ideia do panorama cinematográfico brasileiro, em 2001 o país tinha apenas 1.620 salas de cinema em funcionamento e um público total de 75 milhões de espectadores. Hoje são 2.830 salas, com 155,6 milhões de pessoas tendo ido às salas escuras em 2014 (dados do relatório anual da Ancine). Como se pode ver, o cinema como mercado cresceu bastante neste período.
Nos dias atuais, os exibidores oferecem ainda mais opções de conforto ao público: salas VIP, com poltronas que tremem, telas gigantescas, filmes em 3D. A disputa com vários outros formatos (DVD, Blu-Ray, TV por assinatura, a temida pirataria) fez com que o ato de ir ao cinema se tornasse uma experiência além do simples fato de ver um filme ao lado de outras pessoas. Tamanha comodidade resultou também em ingressos mais caros e guloseimas mais requintadas - pipoca gourmet! -, o que tirou um pouco o caráter popular da sétima arte.