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    Exclusivo: Diretor de Blind fala sobre o filme sucesso de crítica e novo longa, com Jesse Eisenberg

    Além de ditadura da beleza, altos salários na Noruega, Perfume de Mulher... Conversamos com Eskil Vogt, prêmio de melhor roteiro em Sundance por Blind, que estreia nesta quinta no Brasil.

    Christian Belgaux

    Prêmio de melhor roteiro na categoria World Cinema (Drama) no Festival de Sundance 2014; selecionado para a mostra Panorama do Festival de Berlim do mesmo ano, onde foi escolhido o melhor filme europeu, Blind, estreia na direção de longas-metragens do roteirista norueguês fã de Bossa Nova Eskil Vogt, também acumula a cotação máxima (100% de aprovação) no site Rotten Tomatoes (a partir de oito análises críticas).

    E não é para menos. A produção – no original Blind (a mesma palavra, "cega", vale para o inglês e o norueguês) – é um filme sutil, sensorial e inventivo, que narra a história de Ingrid (Ellen Dorrit Petersen, em uma performance arrebatadora). Ela está perdendo a visão e, por isso, acaba se isolando em seu próprio apartamento, de onde começa a fantasiar situações envolvendo sua própria vida. “O real não importa, desde que eu visualize bem”, ela sintetiza.

    Em entrevista exclusiva ao AdoroCinema, Vogt (40), até então mais conhecido como roteirista dos filmes de Joachim Trier – com quem assina os textos de Oslo, 31 de Agosto e Começar de Novo – falou sobre sua identificação com a personagem cega, a pressão que as mulheres sofrem para serem bonitas, os altos salários na Noruega, sua vontade de assistir a Hoje Eu Quero Voltar Sozinho - e detonou Perfume de Mulher - e, de quebra, revelou a trama de seu primeiro roteiro em inglês, que será interpretado por Jesse EisenbergGabriel Byrne e Isabelle Huppert.

    Exibido no último Festival do Rio, Blind estreia no Brasil nesta quinta-feira, 5 de março – antes, portanto, de ganhar o mercado norte-americano. Rá!

    ADOROCINEMA: Por que você decidiu focar a história de seu primeiro longa como diretor em uma mulher cega? Existe algum aspecto pessoal aí?

    ESKIL VOGT: Quando eu comecei a escrever sobre essa mulher, cega, eu tinha certeza de que ela era muito distante de mim. No entanto, à medida em que eu escrevia, ia colocando mais e mais de mim nessa mulher – minha personalidade, meus próprios pensamentos, obsessões e meu humor. Mais do que sobre “cegueira”, Blind é sobre nossos pensamentos, fantasias, criatividade, estupidez, vergonha, imaginação sexual – tudo que nos agita internamente. Enquanto eu escrevia, minha personalidade emergia e, de uma forma estranha, Blind se tornou o texto mais pessoal que já escrevi.  

    Por que uma mulher – e não um homem – cega?

    Não sei o porquê, mas me parecia mais interessante. Talvez por causa da pressão que as mulheres sofrem em relação à aparência, já que ela são muito mais cobradas do que os homens. Uma das primeiras coisas que a mulheres que perdem a visão perguntam quando estão em reabilitação é “e como eu faço para me maquiar agora?”. O absurdo de tentar ter uma boa aparência, para ser atraente para os outros visualmente, se tornou evidente através dessa personagem.

    Como se deu a pesquisa, você assistiu a outros filmes com personagens cegos?

    Assisti a um monte deles. Mas nenhum me ajudou de fato. Existe um número surpreendente de filme com mulheres cegas que são “testemunhas” de um assassinato e são perseguidas pelo assassino [que teme ser reconhecido pela voz]. A mulher cega é a mais vulnerável das vítimas. E também há os dramas “para você se sentir bem”, como Perfume de Mulher. Nesse filme, pra mim, a “cegueira” é tratada de modo exagerado e falso. [Com Blind] Nossa intenção era trabalhar a atuação de modo mais sutil e verdadeiro.

    Como ter uma mulher cega como protagonista afeta a imagem do filme, em termos cinematográficos?

    Esse era o aspecto mais emocionante. Tentar “enxergar” o mundo através do olhos de um personagem cego me forçou a repensar todos os processos tradicionais de filmagem. A maior parte da linguagem do cinema é baseada no olhar. Nós tentamos reter as informações no quadro, de modo que as imagens representassem a ideia dela do que estava acontecendo ao seu redor – e não necessariamente a objetividade da realidade. A cegueira se tornou, assim, extremamente cinematográfica para mim. De certa forma, as pessoas cegas estão indo ao cinema preenchendo o escuro de suas mentes com imagens inventadas.

    Já faz mais de um ano que Blind foi exibido no Festival de Sundance. O filme só recebeu críticas positivas desde então e, mesmo assim, ainda não foi lançado no mercado norte-americano. Existe alguma negociação nesse sentido?

    Esse não é o meu departamento, mas eu soube que vai estrear em breve nos Estados Unidos – só não sei exatamente quando.

    É difícil filmar na Noruega?

    Bem, os salários são muito altos na Noruega, então, só pudemos pagar por poucos dias de filmagem, o que é muito frustrante.

    O que você conhece do cinema brasileiro?

    Não muito. Me lembro de ter assistido – e gostado – de filmes diferentes, como Pixote - A Lei do Mais Fraco, para citar um antigo, e, mais recentemente, Cidade de Deus. Mas estou muito ansioso para ver Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, não apenas porque é centrado em um personagem cego, mas porque só ouvi coisas boas a respeito do filme. Aliás, eu sou muito fã da música brasileira. Especialmente da Bossa Nova.

    Você pode adiantar quais são seus próximos projetos no cinema? Eu sei que você escreveu Louder Than Bombs. Do que se trata? E já há previsão de lançamento?

    Eu comecei a escrever um filme novo, mas ainda não posso revelar muita coisa. Louder than Bombs é o novo filme do Joachim Trier, que está sendo editado nesse momento e será lançado mais para o fim do ano. É um filme de língua inglesa com Gabriel Byrne, Jesse Eisenberg, Isabelle Huppert, entre outros. É um drama familiar, o retrato da tristeza de um pai e seus dois filhos tendo que lidar com a morte da mãe da família alguns anos antes. É um assunto bastante difícil e emocional, mas espero que contado com energia e frescor surpreendentes.

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