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    Festival de Berlim 2015: Dia de comédias tem faroeste, biografia e o pior filme do mundo

    Aferim!, Eisenstein in Guanajuato e Gone With the Bullets foram apresentados à imprensa.

    A mostra competitiva do festival de Berlim está chegando 2015 ao fim, e esta quarta-feira apresentou três comédias totalmente diferentes: um faroeste em preto e branco, uma biografia imaginária e um espetáculo kitsch incrivelmente ruim. Mas vamos por partes:

    Os fanfarrões da Europa

    Aferim! é um inesperado faroeste romeno, em preto e branco, passado no século XIX. A trama, sobre um pai e um filho encarregados de encontrar um escravo em fuga, poderia dar origem a um comentário social dramático, mas o diretor Radu Jude constrói uma obra leve, mostrando a origem da Europa como uma bagunça feita de roubos, estupros, abusos de autoridade e muito preconceito.

    Os dois protagonistas são divertidos, carregando todos os preconceitos do mundo contra ciganos, judeus, gays, mulheres... O roteiro espertamente brinca com o medo do outro, na época em que o continente era uma grande planície onde se transitava livremente. 

    Eisenstein, um gênio mimado

    Eisenstein in Guanajuato é uma biografia inusitada sobre a visita do cineasta soviético Sergei Eisenstein ao México, na intenção de fazer um filme. O diretor Peter Greenaway ignora o aspecto documental do episódio e tenta imaginar como o artista russo teria passado os seus dias, e que razões teriam levado ao fracasso do projeto.

    O resultado é uma mistura de cores, texturas e imagens, retratando Eisenstein (interpretado por Elmer Bäck) como um gênio mimado, infantil, que encontra no México a sua primeira experiência com a morte (através do Dia dos Mortos) e a sua primeira experiência sexual (através da paixão por seu guia mexicano). O filme não poupa cenas de nudez, de sexo e de cadáveres. Greenaway ignora o politicamente correto e faz um filme bastante criativo.

    O show mais kitsch do mundo

    O dia caminhava muito bem, até a chegada da produção chinesa Gone with the Bullets. Segundo filme de uma trilogia (iniciada por Let the Bullets Fly, em 2010), a confusa história mistura gângsteres, garotas de programa, paródias de O Poderoso Chefão, centenas de figurantes, efeitos especiais mirabolantes, mortes inexplicadas, macacos saindo dentro de robôs, perseguições com metralhadoras... A câmera voa e desliza para todos os lados, a montagem fragmenta as imagens o tempo inteiro, o som não para.

    É uma espécie de cinema ostensivo, vaidoso, querendo mostrar tudo que o diretor é capaz fazer com os muitos milhões de dólares à sua disposição. A franquia é famosa e comercialmente relevante na China, mas é absurdo que um filme tão ruim e desprovido de sentido seja exibido em um festival do porte de Berlim. Muitos espectadores abandonaram a sessão antes do final.

    Talvez os produtores da Berlinale queiram muito agradar algum produtor do rentável país asiático, selecionando uma grande produção popular para a mostra competitiva. De qualquer maneira, o cinema chinês certamente teria dezenas de outras obras muito melhores para representar o país.  

     

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