Chris Rock tem aparecido pouco nos cinemas recentemente: ele fez aparições em Gente Grande 2 e O Que Esperar Quando Você Está Esperando, mas estava há anos sem conseguir algum projeto como protagonista. Ele resolveu essa questão de uma maneira corajosa, dirigindo o próprio filme: a comédia Top Five, que lhe rendeu o prêmio Spotlight da prestigiosa National Board of Review.
O tema desta comédia é justamente a indústria do cinema. Chris Rock interpreta um comediante falido em busca de um novo sucesso, enquanto Rosario Dawson faz a jornalista capaz de mudar a sua reputação. O filme tem um elenco predominantemente negro, incluindo Gabrielle Union, Hayley Marie Norman, Tracy Morgan, Kevin Hart e Whoopi Goldberg, e as questões raciais são o foco de muitas discussões na história.
Agora o ator deu um passo adiante e escreveu um longo artigo para o The Hollywood Reporter, explicando o seu ponto de vista sobre o racismo na indústria americana. Confira alguns trechos do texto:
"Hoje eu tento ajudar jovens atores negros iniciantes, porque foram estes que apostaram em mim [no início da carreira]. [...] Eu poderia fazer o mesmo para um ator branco, mas aqui está a diferença: alguém vai ajudar o cara branco. Muitas pessoas vão ajudá-lo. Já as pessoas que eu tento ajudar, não tenho certeza se alguém as ajudaria".
"É uma indústria de brancos. Assim como a NBA é uma indústria de negros. Eu nem estou dizendo que isso é algo ruim. Mas é assim. [...] Quantos homens negros você já viu trabalhando em Hollywood? Ninguém contrata negros. Um negro com a voz grave e barba no rosto? Nem pensar. É assim que funciona. Eu sou um cara que já aceitou tudo isso".
"Uma questão ainda melhor é: Hollywood é mexicana o suficiente? Nós estamos em Los Angeles, é mais difícil não contratar mexicanos. [...] Você vai me dizer que nenhum mexicano é qualificado para fazer nada nos estúdios? É sério? Nada além da faxina? Quais são as chances de isso ser verdade?"
"Eu realmente não acho que exista alguma diferença entre o que as plateias negras acham engraçado, e o que as plateias brancas acham engraçado, mas todo mundo gosta de se ver na tela, então existem alguns momentos em que a plateia negra ri, e a branca não ri, porque a plateia negra está muito feliz de se ver".
"Eu acho que [os filmes sobre negros] melhoraram um pouco nos últimos anos. Eles estão um pouco mais ousados, um pouco mais engraçados. Mas a maioria é péssima. Totalmente péssima. [...] Quando você tem um sistema em que você só vê três negros como protagonistas por ano, você tende a julgá-los de maneira mais severa, porque você realmente espera que eles sejam melhores do que as 140 pessoas brancas estrelando filmes a cada ano".
"Na maioria dos filmes sobre negros - e na maioria das séries de televisão com negros, e mesmo na maioria de peças de teatros com negros - qualquer um com dinheiro ou com estudos é malvado, e isso ocorre mesmo nas histórias feitas por diretores negros. Eles precisam ser salvos pelos pobres".
"Quando chega na hora de escolher o elenco, Hollywood simplesmente decide se vai ter um negro ou não. Nós nunca estamos 'entre os cotados'. Quando existe um papel interessante com vários atores dispostos a fazer testes, eles nunca vão pensar: 'Vai ser Ryan Gosling ou Chiwetel Ejiofor em Cinquenta Tons de Cinza?' [...] E o que dizer de True Detective? Eu nunca ouvi ninguém falar: 'Vai ser Amy Adams ou Gabrielle Union?' para a série. Eu não ouvi o nome de nenhuma mulher negra na lista das cotadas. Nenhuma. Literalmente a cidade inteira foi cogitada por esse papel, contanto que não fosse negra. Eu não li o roteiro, mas algo me diz que se Gabrielle Union fosse a esposa de Colin Farrell, isso não mudaria a história".
"Às vezes eles dão uma chance a um cara negro. OK, colocam um cara negro. Mas existe uma única mulher negra em Interestelar? Garota Exemplar? Birdman? Uma Noite de Crime? Vizinhos? Eu acho que não. Não me lembro de nenhuma. Eu vou ao cinema quase toda semana, e posso passar um mês inteiro sem ver uma única mulher que tenha falas em um filme. A verdade é essa".
O artigo completo está disponível no site do The Hollywood Reporter.