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    Cine Ceará 2014: Longa mexicano recupera escândalo de pedofilia na Igreja

    Ator Juan Ignacio Aranda apresenta a ficção Obediência Perfeita, em caráter competitivo, e confessa que ele mesmo já foi alvo de ‘carinho excessivo’ de um padre. Entre os curtas, Marina Não Vai à Praia e Meio Fio estreiam.

    “Os nomes são fictícios, mas todos no México sabiam de quem estávamos falando, porque é uma história baseada em um episódio bem vergonhoso e conhecido no meu país. E ninguém tinha se atrevido a fazer um filme até então”. Assim o ator Juan Ignacio Aranda apresentou o longa-metragem Obediência Perfeita, exibido no Theatro José de Alencar na noite dessa quarta-feira, na briga pelo título do Cine Ceará 2014.

    Nomeando o boi: Marcial Maciel (esse é o nome verdadeiro) foi um padre Católico fundador dos Legionários de Cristo. Mantinha relações sexuais frequentes com os garotos da ordem, se drogarava e usava da sua infulência – tinha um bom trânsito com o Vaticano – para arrecadar fundos com a elite mexicana. Apesar da comprovação de culpa do religioso, muitos se recusam a acreditar nos crimes até hoje no México e o assunto virou tabu.

    O ‘atrevimento’ de levar essa história para as telas ficou a cargo do diretor Luis Urquiza. Baseado no livro homônimo do escritor Ernesto Alcocer, o filme se passa nos anos 1960, focando a relação entre o ‘amado’ padre Angel de la Cruz (Juan Manuel Bernal), fundador da fictícia Cruz de Cristo e o jovem seminarista Sacramento Santos (Sebastián Aguirre). A história verídica veio à tona nos anos 1980 e 15 pessoas, hoje adultos, já denunciaram Maciel, que morreu em 2008 impunemente.

    “Na Igreja de San Caetano, onde fiz minha primeira comunhão, havia um padre que me tocava muito, era excessivamente carinhoso”, confessou Juan Ignacio na coletiva de imprensa na manhã desta quinta-feira.

    O filme estreou no México no ano passado causando "furor", segundo o ator presente no festival. De acordo com ele, cerca de 600 mil pessoas viram a produção em seu país durante as oito semanas em que ficou em cartaz. “E a censura era de 15 anos e, mesmo assim, só acompanahado dos pais”.

    Há cenas fortes no filme, mas não explícitas. Obediência Perfeita começa de maneira bem caricata – uma "gaiola das loucas", com os religiosos euforicamente afetados ao receber a nova turma de seminaristas – e tem bons momentos, com destaque para a cena do abuso, com som, sem imagem, mas trata-se de uma produção bastante irregular, conduzida por uma trilha muito presente e insistente em direcionar a emoção do espectador – uma herança das famosas telenovelas do país.

    O curioso é que o filme foi rodado em uma escola católica, durante as férias escolares. “Pagamos e os padres nem quiseram saber do que se tratava”, revelou o ator.

    Mais cedo

    A quinta noite do Cine Ceará começou com uma homenagem da Associação de Produtores e Cineastas do Norte e Nordeste – APCNN ao documentarista Guido Araújo. E depois, em caráter competitivo, foi exibido o curta Marina Não Vai à Praia, de Minas Gerais, apresentado pelo diretor Cássio Pereira Dos Santos, o produtor Heverton Lima e a diretora de arte Denise Vieira, que nem precisou se dar ao trabalho de descer do palco. Ela também é diretora do curta Meio Fio, representante do Distrito Federal, também exibido na mesma noite.

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