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    Cine Ceará 2014: A Vida Privada dos Hipopótamos entra com peso na disputa pelo prêmio principal

    Inventivo documentário brasileiro divertiu os presentes no Theatro José de Alencar. Entre os curtas, foram exibidos Eu Não Digo Adeus, Digo Até Logo (SP) e História Natural (PE).

    A Vida Privada dos Hipopótamos já não era mais segredo. Selecionado para o FID (Festival Internacional de Documentário) de Marselha (França), exibido na Mostra São Paulo e no último Festival do Rio – de onde saiu com o prêmio de melhor montagem (Luisa Marques) –, o documentário em longa-metragem estreou no Nordeste na noite desse domingo (16), pela mostra competitiva do Cine Ceará. E agradou.

    Ao contrário do que possa sugerir o título, o filme em nada se assemelha às produções da National Geographic sobre o reino animal. Dirigido por Matias Mariani e Maíra Bühler, o longa conta a história de Christopher Kirk, um falastrão técnico de informática norte-americano que se apaixona por uma colombiana de feições japonesas (uma mistura que agradaria 11 em cada dez geeks).

    O projeto inicial dos realizadores tinha com o foco traçar um perfil dos estrangeiros presos em cadeias brasileiras – o que resultou no filme Ela Sonhou que Eu Morri. Mas da obra original, um dos entrevistados se sobressaiu. Sim, Chris está na cadeia. E em São Paulo. E é assim que começa o filme. “Mas o que isso tem a ver com o artiodátilo mamífero do título?” deve estar se perguntando o atento (e culto) leitor.

    Um belo dia, se recusando a viver uma vida ordinária, nosso herói descobre, em uma reportagem, o que foi feito do espólio de Pablo Escobar, depois da morte do traficante colombiano. No auge financeiro, o contraventor construiu uma luxuosa fazenda, o Parque Hacienda Nápoles, onde montou um zoológico com toda a sorte de animais. Depois da derrocada, o local foi saqueado e só sobraram os hipopótamos, que são extremamente agressivos. “Eu preciso ver isso de perto”, claro, pensou o entediado Chris.

    A partir daí, ele conta como conheceu V. (a exótica colombiana). Eles engatam um relacionamento, mesmo à distância, mas o comportamento dela era... estranho. Narrado em primeira pessoa pelo próprio Christopher Kirk, o documentário metalinguístico é conduzido desnudando o processo de entrevistas dos realizadores com o protagonista, ao qual se agregam depoimentos de amigos, além da reconstrução de diálogos a partir da recuperação do HD de um antigo computador de Chris. E ainda há um ponto de virada. Afinal, ele está na cadeia (e em São Paulo!)

    Pintado como uma espécie de Pinóquio loser, Christopher Kirk é um personagem interessantíssimo e muito bem articulado. “Ele fala bastante de si próprio, mas sempre com distanciamento”, resume a codiretora Maíra Bühler em um momento da projeção. Luisa Marques, que pela primeira vez edita um longa-metragem – de maneira ágil e dinâmica, diga-se –, é cearense e apresentou o filme no palco Theatro José de Alencar. O pequeno público presente no local se divertiu com o relato de Kirk.

    A Vida Privada dos Hipopótamos ainda não tem data de estreia no país.

    Antes, foram exibidos os curtas nacionais de ficção em competição Eu Não Digo Adeus, Digo Até Logo (SP), representado pela produtora Beatriz Monteiro; e o pernambucano História Natural, apresentado pelo assistente de direção Tiago Melo. A disputa pelo troféu Mucuripe, o principal do Cine Ceará, continua nesta segunda-feira com a projeção do longa No Robarás (a menos que sea necesario), do Equador; e dos curtas O Relâmpago e a Febre (RS) e De Castigo (SP).

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