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    Mostra SP 2014: Damián Szifrón e Erica Rivas falam sobre Relatos Selvagens

    Diretor e atriz vieram ao Brasil para apresentar o filme na Mostra de São Paulo. O AdoroCinema conversou com a dupla.

    Aline Arruda/Agência Foto

    Exibido no Festival de Cannes e escolhido o representante da Argentina na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Relatos Selvagens chega aos cinemas brasileiros prometendo satisfazer os fãs da cinematografia argentina e do ator Ricardo Darín. O filme foi escolhido para abrir a Mostra de Cinema de São Paulo, em sessão que contou com a presença do diretor Damián Szifron e da Erica Rivas. O AdoroCinema aproveitou a passagem da dupla pelo país para conversar sobre o filme, sobre o cinema argentino e mais. Confira só!

    SUCESSO DE PÚBLICO

    O longa foi visto por aproximadamente três milhões de pessoas na Argentina, o que é um recorde no país. Perguntado se esperava tanto sucesso, o diretor foi honesto: "Não tanto. Sou otimista. Quando escrevo, imagino uma sala cheia de gente. Um milhão de espectadores é muitíssimo na Argentina, são poucos os filmes que alcançam esta marca. E nós chegamos nos três milhões." 

    Szifron também falou sobre sua relação com o público: "Sempre gostei dos filmes destinados para o grande público. Meus filmes favoritos foram vistos por muita gente, como O Poderoso Chefão, O Iluminado, Tubarão e outros. São filmes que reúnem arte e espetáculo em um todo. Sergio Leone, Clint Eastwood, Luis Buñuel, na sua fase mexicana, eram artistas que também eram populares. Nunca temi o público. Fui público por muito tempo."

    CINEMA ARGENTINO X BRASILEIRO

    "Não me considero um especialista no cinema brasileiro. Lembro de Dona Flor e Seus Dois Maridos e daí salto para Central do Brasil e Cidade de Deus. Não me lembro de outros filmes muito importantes. Estou familiarizado com estes diretores que fizeram sucesso aqui e depois foram filmar nos Estados Unidos, como José Padilha, Fernando Meirelles e Walter Salles. Não estreiam muitos filmes brasileiros na Argentina", disse o diretor.

    Aline Arruda/Agência Foto

    Rivas também lamentou não ter tanto acesso ao nosso cinema: "Não sei o que acontece na Argentina. Não chegam os filmes brasileiros. Gostaria de saber por quê, é injusto. Não chegam, nem as comédias mais básicas. O último filme mais conhecido a estrear lá foi Cidade de Deus, que é incrível. Sempre temos novelas brasileiras passando, mas como não tenho televisão, gostaria que chegassem mais filmes aos cinemas."

    Damián Szifron não gosta de fazer comparações entre as cinematografias dos dois países. "Se há esta comparação, ela não faz sentido. É errado comparar uma nação com a outra cinematograficamente, pois o cinema é feito por indivíduos. Vivemos numa época muito competitiva, mas o cinema não pode ser competitivo. Quando faço um filme, não estou pensando no que o outro está fazendo. Penso em ser cada vez melhor, dominar certa arte e desenvolver criatividade", destacou.

    RICARDO DARÍN

    Assim como Erica, Ricardo Darín é protagonista de um dos episódios de Relatos Selvagens. O diretor falou um pouco sobre a importância do ator: "O Ricardo é uma espécie de embaixador da Argentina. Ele tem uma personalidade que é contagiosa e gera no outro o respeito. Tem uma mescla de bondade e inteligência. É uma pessoa muito agradável de se trabalhar. Você entende o sucesso que ele atingiu assim que conhece ele."

    "Acho que a força do cinema argentino está no fato das pessoas preferirem assistir à um filme argentino. Se uma produção do mesmo tipo for estrelada pelo Ricardo Darin ou pelo Tom Cruise, as pessoas vão preferir a primeira. Isso não acontece com vários atores, mas é assim com ele", completou Damián.

    O episódio de Darín é marcante, mas nada perto da performance de Erica. Informada que o filme que era considerado o "filme com Darín" poderia a ser tratado como "o filme com Erica Rivas", a atriz agradeceu e brincou: "Vou dizer ao Darín!"

    PROJETO

    "Penso que esta personagem foi um presente. Sou amiga do Damián e acho que ele foi muito amoroso comigo porque me quer bem. Este papel foi um tesouro para mim. Acho que qualquer atriz gostaria de fazer algo assim", afirmou Erica, que interpreta uma noiva durante sua festa de casamento, quando descobre que o marido teve um caso com uma colega de trabalho, que é uma das convidadas da festa.

    Rivas ainda continuou: "Quando li o roteiro, percebi que era exatamente o que queria dizer neste momento da minha vida. E isso é raro para uma atriz. Normalmente, dizemos aquilo que o diretor ou o roteirista que dizer. Mas neste caso era o que eu queria. Não tinha me dado conta disso, mas quando li o título percebi."

    A personagem é muito complexa e lida com diversos sentimentos ao longo do curto capítulo. Amor, ódio, ironia, vingança... Perguntada sobre como foi se preparar para isso, ela resumiu: "Nasci mulher." Mas não ficou só nisso: "Quase todas as minhas atuações se inspiram em Pedro Almodóvar, Federico García Lorca, Tennessee Williams, em todos os autores que tenham desenvolvido um pensamento particular sobre o feminino. Gosto da poesia e acho que a vida de qualquer pessoa pode ser interessante e sob uma lupa também apresenta essa mistura de muitas emoções." 

    DIFICULDADES

    "Fazer cinema não é mais difícil, graças ao avanço da tecnologia. A dificuldade passa por escrever um bom roteiro que não exija uma mega-produção. Hoje, é muito barato comprar uma câmera e você encontra uma ilha de edição em qualquer computador. Um PC comum pode ter o mesmo programa que um estúdio de montagem", disse o diretor.

    Filmar pode não ser tão complicado, mas ainda é difícil construir uma carreira como artista. Erica falou um pouco sobre as dificuldades que teve na carreira: "Por muitos anos senti que não estava fazendo as coisas bem. Meus pais nunca acreditaram em mim como atriz e sempre tive que fazer outros trabalhos para continuar fazendo o que queria. Tive que pagar meus estudos sozinha. Não quero dizer que meus pais foram péssimos pais, eles não sabiam como me ajudar. Não tinham como me ajudar naquilo que eu estava tentando fazer. Sempre pensei que algo bom aconteceria por causa de toda essa persistência. Estou para completar 40 anos e que todo este sucesso aconteça agora é incrível, depois de tanto trabalho, tantas idas e voltas, tanta angústia."

    PRÓXIMOS TRABALHOS

    "Estou aberta a convites da Rede Globo para novelas", brincou a atriz, que na verdade não tem planos para fazer TV. "Vou fazer duas peças. Estou trabalhando numa adaptação de Strindberg chamada Os Credores. E durante o verão, em Mar del Plata, vou encenar uma adaptação de Cenas de um Casamento, de Ingmar Bergman, com Ricardo Darín. E em uma semana vou filmar um longa do Ariel Rotter chamado La Luz Incidente.

    OSCAR

    Damián falou um pouco sobre a escolha do filme para a corrida pelo Oscar. "A Argentina selecionou o filme, mas daí a ser indicado ao Oscar é uma distância muito grande. Não sei quais as chances reais, pois temos grandes outros filmes concorrendo. Mas me alegra o fato de ter sido escolhido por colegas diretores e produtores", disse. Ele, no entanto, fez a ressalva: "Nós lembramos dos filmes que gostamos e não dos que ganharam prêmios."

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