A noite do dia 16 de setembro trouxe a abertura do 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A plateia lotada do belo Cine Brasília presenciou os tradicionais agradecimentos, antes da projeção de Deus e o Diabo na Terra do Sol, filme de Glauber Rocha que acaba de completar 50 anos.
Desde o início da cerimônia, os apresentadores defenderam o novo formato do festival, que reúne mais uma vez ficções e documentários na mesma mostra competitiva, após as críticas à separação proposta na edição anterior. A menção à "linha tênue" entre os dois tipos de cinema arrancou aplausos do público. Outros fatos destacados com orgulho foram a exibição de todos os filmes da mostra competitiva em outros bairros da cidade, gratuitamente, além da reforma do Cine Brasília e da instauração de um "sistema de projeção de som digitais definitivos" ("Mas o 35mm permanece!", frisou o apresentador).
Em seguida, o Secretário da Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira da Silva, foi convidado a apresentar o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol. Em um discurso elogioso e pomposo, o político afirmou que a obra de Glauber Rocha "nos convoca a colocar a cara diante da miséria", além de "fundar um idioma nacional" e representar um "registro da resistência à desumanidade que durou 21 anos no Brasil", em referência à ditadura militar. Silva ainda frisou que "Glauber era o Brasil filmando o Brasil".
Curiosamente, o discurso mais interessante e de cunho mais fundamentalmente político foi o de Paloma Rocha, cineasta e filha de Glauber Rocha com a atriz Helena Ignez. Emocionada, ela lembrou os esforços da falecida avó Lúcia Rocha na preservação das obras de Glauber, e mencionou em números e dados a pertinência da restauração e catalogação destes trabalhos. Paloma Rocha também alfinetou a falta de interesse do governo em apoiar o Tempo Glauber, que está "fadado ao fechamento" até o fim do ano se não receber os devidos investimentos.
Por fim, uma orquestra apresentou composições da trilha de Deus e o Diabo na Terra do Sol, antes da projeção da obra. Este clássico traz a trama de um pobre vaqueiro (Geraldo Del Rey), que mata um coronel e acaba se envolvendo tanto com o líder católico Sebastião quanto com o cangaceiro Corisco (Othon Bastos). A qualidade da restauração era de fato louvável, e a plateia permaneceu em peso à exibição da história, apesar da hora avançada. Hoje, dia 17 de setembro, começa a mostra competitiva do festival, com a exibição de Sem Pena, de Eugênio Puppo, e dos curtas-metragens Loja de Répteis, de Pedro Severien, e Bashar, de Diogo Faggiano.