Eles não foram cavalheiros. Os primeiros filmes vistos no Festival de Toronto (TIFF) em 2014 se caracterizaram por trazer performances de destaque masculinas em papéis principais: Jake Gyllenhaal (Nightcrawler), Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo), Benedict Cumberbatch (The Imitation Game). Até que Jennifer Aniston (Cake) abriu a catraca para o time das mulheres, e Reese Witherspoon (Wild) não hesitou em entrar para a sessão.
Dez anos depois de ganhar o Oscar de melhor atriz por seu papel em Johnny & June, Witherspoon volta à bolsa de apostas como Cheryl Strayed, a mulher que resolveu fazer a trilha de 4.200 Km, que inclui toda a costa oeste dos Estados Unidos, da fronteira com o México até o Canadá, conhecida como Pacific Crest Trail – e sem experiência alguma no esporte – em busca de autoconhecimento. E também como forma de expurgar o passado, de drogas e sexo promíscuo. A história é verídica.
Assim que foi lançado, em 2012, o livro fez um baita sucesso, liderando por sete semanas consecutivas a lista dos mais vendidos de não-ficção do jornal The New York Times; foi selecionado para o popular Clube do Livro de Oprah Winfrey; e traduzido para mais de 30 idiomas.
Reese, que não é boba, lutou pelos direitos da obra e, como produtora, contratou um timaço para dar cabo da adaptação: o canadense Jean-Marc Vallée, o nome do momento desde Clube de Compras Dallas; e o escritor e roteirista Nick Hornby, cultuado por trabalhos como Alta Fidelidade, Um Grande Garoto, Educação. Tudo, no entanto, soando muito calculado, certo? “Mas a gente nunca está preparado para aquilo que espera”, diz Cheryl, em um dos trechos da caminhada.
Pois este Wild – o Na Natureza Selvagem de Reese Whiterspoon – tem fôlego de sobra para as duas horas de duração da projeção. Em paralelo correm a ação da própria caminhada, em si, com as bolhas, o perigo de ser atacada por uma cobra, o frio, a falta d´água, o risco de ser estuprada, enfim, desafio é o que não falta, e veremos até que ponto ela vai chegar (literalmente); por outro lado, acompanhamos o passado de Cheryl, em cenas de flashbacks não lineares, para entendermos até que ponto ela chegou (figurado).
Reese se entrega ao papel despida (à vezes, literalmente também) de qualquer vício de trabalhos anteriores, em uma performance (in)crível. Com alma, o relato corajoso de Cheryl, a escritora, resulta em um filme, no mínimo, honesto; “de arte”, até, no máximo. Merecidamente, foi bastante aplaudido na sessão.
O filme tem previsão de estreia no Brasil, embora ainda esteja um pouco longe: 8 de janeiro.
La French
Outro “oscarizado”, Jean Dujardin (O Artista) também está com filme novo no TIFF. Embora “novo” não seja a palavra mais adequada para definir este La French, segundo longa-metragem do francês Cédric Jimenez, que se enquadra na estrutura clássica formal de filme americano, do roteiro em três atos, com apresentação de personagem, dois pontos de virada e desfecho, além de não trazer nenhuma grande novidade à temática da "máfia".
Em 1975, uma quadrilha de traficantes de heroína manda na cidade de Marselha. Pierre Michel (Dujardin) é um dedicado pai de família e policial que investiga jovens dependentes de droga (apresentação do personagem), até que é promovido a magistrado (1º ponto de virada) e terá como desafio derrubar o chefão da máfia Gartan Zampa (Gilles Lellouche), que parece inatingível (segundo ponto de virada). Obcecado pelo trabalho, ele começa a ser questionado pela mulher (Céline Sallette). A trama envolve corrupção, tiros, perseguições.
O desfecho não previsível mas, ainda assim, não salva a história. O charme fica por conta da época: o figurino, os cenários, a música, as costeletas, enfim, o clima dos anos 1970 muito bem reconstruído.
La French ainda está sem data de estreia no país.