Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário
Entre OVA's paralelos ou independentes aos mangás e animes, foram cinco os filmes produzidos sobre a obra principal de Masami Kurumada até 2014: Saint Seiya: O Santo Guerreiro (1987), A Batalha dos Deuses (1988), A Lenda dos Defensores de Atena (1988), Os Guerreiros do Armageddon (1990) e Prólogo do Céu (2004). Diferente de todos os anteriores, Os Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário chega aos cinemas com um visual repaginado e uma nova abordagem à mitologia de Kurumada.
"Temos pressa", diz Saori à chegada do grupo à casa de Áries. A frase parece simples, mas é a melhor de todo o filme: além de significar a corrida contra o tempo de Seiya e companhia para atravessar as Doze Casas do Santuário, as palavras funcionam de modo metalinguístico. Isso porque o roteiro tem a árdua missão de, em 90 minutos, adaptar uma saga que recebeu 45 capítulos de mangá e 73 episódios em anime. Missão impossível!
Então, o roteiro trabalha sua limitação com autoconsciência e bom humor (como quando o prolixo Shiryu explica minuciosamente o longo caminho a ser percorrido no Santuário, enquanto seus amigos debocham dele), porém sem eficácia em contorná-la. Os diálogos são expositivos, o vilão explica seu plano maligno em detalhes – enfim, todos os artifícios mais simplórios estão lá. Ainda assim, problemático mesmo é ver a lógica deixada de lado, cedendo lugar à correria. O filme se torna confuso até para quem acompanhou a série.
Por conta dessa necessidade em apresentar todo um universo de maneira apressada, um certo Cavaleiro de Ouro é desrespeitado por sua eliminação sumária da história, por exemplo – e isso só não é mais incômodo do que o tratamento dispensado ao Máscara da Morte. Sua alcunha não é à toa: além da característica comunicação com os mortos, o Cavaleiro de Câncer é marcado por sua personalidade doentia, cruel. Em A Lenda do Santuário, tal psicopatia se resume a uma loucura excêntrica digna de um personagem de A Gaiola das Loucas. Decepcionante.
Esta drástica mudança simplifica o objetivo do filme. Diferente do que acontece desde 1986, desde quando Cavaleiros do Zodíaco cativa o público pela identificação dos leitores e espectadores com a mitologia de Kurumada, a proposta dos irmãos roteiristas Chihiro e Tomohiro Suzuki é conquistar o público jovem com artifícios visuais – o arrojo da composição dos personagens (tatuagens, piercings, armadura neon, capacete retrátil) é sob medida para o público adolescente – e fisgar a criançada com as inúmeras gags físicas infantis de Seiya. Isso é pouco.
Na verdade, muito pouco para quem cresceu acompanhando uma série que teve liberdade para apresentar toda uma mitologia e moldar uma filosofia que, embora correta, pôde se cercar de violência, polêmicas com religião e outros elementos que dão profundidade a qualquer obra. Porém, há de se ponderar, é até suficiente dentro das limitações de tempo e contexto em que os realizadores esbarram hoje.