Parece que ela finalmente conseguiu. Nos dez anos que se passaram desde o fim de Friends, Jennifer Aniston se dividiu entre a escolha óbvia dos papéis cômicos (Quero Matar meu Chefe), com os quais deve ter feito uma boa caixinha; e tentativas de mostrar que não é só um rostinho bonito, e que pode atuar em produções mais “cabeça”, como se diz (Por um Sentido na Vida). Fazendo a conta, mais comédias do que dramas, é claro.
Pois o rostinho bonito envelheceu (bem, diga-se) e, ao 45 anos, aparece cheio de cicatrizes (literalmente) neste Cake, que estreou mundialmente no Festival de Toronto (TIFF) prometendo representar uma guinada na carreira da atriz. E cumprindo, ao que tudo indica.
O longa-metragem de Daniel Barnz (A Menina no País das Maravilhas) começa com Claire Simmons (Aniston) em uma rodinha de um grupo de ajuda que tem como objetivo expurgar os sentimentos em relação ao suicídio de Nina (Anna Kendrick). Claire está com raiva. Ela reclama de dores crônicas. O ex deixa uma mensagem no celular combinando de pegar as coisas dele. Ela passa adiante uma caixa cheia de brinquedos. São instigantes as pistas que o filme vai plantando.
“É um papel completamente distante de tudo que eu já fiz”, cravou a atriz na coletiva de imprensa. Não tivesse visto o filme, este repórter desconfiaria da fala, que soa como estratégia de marketing. Mas ela está certa. Aniston está desbocada, ranzinza, egoísta, cruel, até. E, para não sermos acusados de estarmos obcecados com palavra que começa com O, vamos deixar o coleguinha da publicação Deadline falar: “Candidata ao Oscar? Pode apostar, depois ovação que ela (Aniston) recebeu na tarde dessa segunda-feira”, quando o filme foi exibido.
O trabalho físico está lá. Porém, de forma contida. Aniston passa boa parte do filme executando movimentos sutis, por conta das dores crônicas da personagem. “Eu ouvi médicos e acompanhei duas garotas que sofrem o mesmo problema”, ela contou ao jornalistas.
O filme é dela e o elenco de apoio de luxo parece ter sido usado afetivamente para dar visibilidade à produção. O papel masculino é de Sam Worthington (Avatar), marido de Nina, com quem Claire estabelece uma relação; e a escada é Silvana (Adriana Barraza, de Babel, sobre quem já se especula também ser nomeada na categoria de atriz coadjuvante). Creditados, Chris Messina (Argo) e William H. Macy (Magnólia) têm participações pequeniníssimas. Assim como este, há uma série de outros artifícios, que resultam em um filme calculado demais. O tipo indie que Hollywood é capaz de comprar.
The Riot Club
Uma boa surpresa do TIFF é The Riot Club, no qual a diretora Lone Scherfig (Um Dia) aborda a luta de classes contemporânea na Inglaterra a partir das ações de um clube (o do título) de playboys da alta classe da pernóstica universidade de Oxford.
Direção firme, roteiro redondo e elenco afinado – capitaneado por Max Irons (A Hospedeira) e Sam Claflin (Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1) – são características da produção, também em caráter de estreia mundial.
No filme, Irons é Miles, um garoto boa praça que é convidado para entrar para a lendária e secular irmandade da Universidade de Oxford conhecida como Riot Club. O mesmo acontece com Alistair (Claflin) – não tão boa praça assim. A partir de uma celebração, o grupo dos rapazes ricos, inconsequentes, passa dos limites, e vai ter que responder pelos seus atos. Ou não.