Não é de hoje que as peças escritas por William Shakespeare servem de inspiração para o cinema, seja em adaptações fiéis ao material original ou em atualizações para os dias modernos. Algumas das obras mais conhecidas do bardo inglês já ganharam versões contemporâneas, como Hamlet, Romeu e Julieta e A Megera Domada (em 10 Coisas que Eu Odeio em Você). O Festival de Veneza deste ano exibiu mais uma delas: Cymbeline, apresentada na mostra paralela Orizzonti.
Dirigido por Michael Almereyda, que já havia comandado a versão moderna de Hamlet, Cymbeline é uma recriação com bastante liberdade de um dos textos menos conhecidos de Shakespeare, envolvendo o amor proibido entre a filha de um rei e um desafeto do pai dela. Por mais que os diálogos originais tenham sido mantidos, muito foi alterado na ambientação: laptops, tablets, skates e iPhones fazem parte da narrativa. Da mesma forma, a trilha sonora conta com reggae e tecno, assim como há referências a Barack Obama e Che Guevara. Para completar, o rei da trama original agora dá vez ao líder de um grupo de motoqueiros, interpretado por Ed Harris.
No fim das contas, são estas modificações que dão uma certa graça ao longa-metragem, pelo inusitado de ver estes apetrechos modernos em meio ao dialeto típico de Shakespeare. Tirando isto, a adaptação deixa bastante a desejar no desenvolvimento da trama, com claras lacunas que, talvez, não tenham sido preenchidas justamente para manter uma certa unidade estética.
Outro ponto a destacar é o bom desempenho da ainda pouco conhecida Dakota Johnson, a Anastasia Steele do inédito Cinquenta Tons de Cinza, apesar de seu personagem praticamente desaparecer na segunda metade do longa-metragem. Estrelado também por Milla Jovovich (que canta - mal - em cena), Anton Yelchin, Ethan Hawke, John Leguizamo, Delroy Lindo e Penn Badgley, Cymbeline ainda não tem previsão de lançamento nos cinemas brasileiros.