2014 tem sido um ano difícil para o meio artístico em geral, com o falecimento de grandes nomes que deixaram saudades. Um deles é José Wilker, ícone do cinema brasileiro que faleceu em abril deste ano, vítima de um ataque cardíaco fulminante. O ator foi o grande homenageado na abertura do Festival de Gramado, realizada ontem à noite.
"É uma pena não termos José Wilker hoje com a gente, mas pelo menos o eternizamos de alguma forma com este filme", disse o diretor Tomas Portella antes da exibição de Isolados, um dos últimos trabalhos do ator. A filha de Wilker, Mariana Vielmond, e ainda a viúva Cláudia Montenegro subiram ao palco do Palácio dos Festivais para receber uma placa confeccionada pela organização do Festival de Gramado, em reconhecimento aos feitos prestados pelo ator. Vale lembrar que ele era um dos curadores do festival, em parceria com Rubens Ewald Filho e Marcos Santuário.
Após a exibição de um vídeo com trechos dos filmes estrelados por Wilker, como Dona Flor e Seus Dois Maridos, O Homem da Capa Preta e Guerra de Canudos, chegou a vez de conferir Isolados. O filme é uma das raras apostas do cinema brasileiro no gênero suspense e, disposto a conquistar o público que adora este tipo de filme, investe em todo tipo de clichês do gênero. Sustos provocados pelos efeitos sonoros, clima claustrofóbico e sombrio, bonecas macabras, caveiras desenhadas, a ameaça jamais revelada por completo... tudo isto está lá, de alguma forma. O grande problema é a forma como estes elementos são apresentados, em uma trama não-linear e um tanto quanto desconexa, que traz ainda problemas sérios de continuidade.
"A gente pegou várias referências clássicas, como O Iluminado e Ilha do Medo", disse a roteirista Mariana Vielmond no debate sobre Isolados ocorrido hoje pela manhã. "Desde o início tínhamos como proposta fazer um filme de gênero", disse o diretor Tomas Portella. "O suspense é pouco explorado no nosso cinema, então tentamos encontrar os códigos que fossem, de certa forma, confortáveis para o nosso público", complementou. Com este objetivo em mente, o filme passou por exibições teste no Rio de Janeiro e em São Paulo antes de definir sua edição definitiva. "Era preciso encontrar o ritmo do susto, já que tivemos dificuldade em encontrar alguém que tivesse trabalhado com suspense no Brasil", disse o diretor.
Estreante no cinema, já que Isolados foi rodado antes da comédia Mato Sem Cachorro, o protagonista Bruno Gagliasso demonstrou animação com a experiência e revelou que, em novembro deste ano, rodará mais um filme: Jogos Clandestinos, dirigido e roteirizado por Caio Cobra. Nele interpretará outro personagem pouco usual em sua carreira: um jogador viciado que decide assaltar um cassino para recuperar o dinheiro perdido jogando cartas. A cinebiografia de Leandro e Leonardo continua na sua mira, por mais que não haja previsão sobre quando o projeto sairá do papel.
Já a coprotagonista Regiane Alves revelou que teve muitos pesadelos durante as filmagens. "De manhã ia correndo contar ao Bruno, porque estes pesadelos eram parte da minha preparação para a personagem", explicou a atriz. No filme ela interpreta uma mulher com síndrome de Cotard, uma doença de fundo psicológico onde a pessoa acredita estar morta e, desta forma, não reage a estímulos externos nem a outras pessoas.
Durante o debate, Tomas Portella admitiu que a versão exibida no Festival de Gramado ainda não é a que irá aos cinemas, pois "há problemas de cor a serem acertados". Trabalho extra para a equipe de pós-produção, com certeza. O diretor também revelou que a homenagem feita a José Wilker, com uma longa sequência por ele estrelada durante os créditos finais, será mantida na versão que irá para o circuito comercial. Isolados chegará aos cinemas de todo o país em 18 de setembro, em cerca de 200 salas.