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    Paulínia 2014: Fernanda Montenegro é destaque em filme de Domingos Oliveira

    Atriz esteve no 6º Paulínia Film Festival para apresentar Infância, último longa exibido pela mostra competitiva. Antes, público aprovou A História da Eternidade, fábula que se passa no sertão pernambucano.

    Elogiar uma atuação de Fernanda Montenegro é como chover no molhado, como se diz. Entretanto, há muito ela não fazia um papel de tanto destaque no cinema, como neste Infância, de Domingos Oliveira – sempre muito requisitada, a veterana atriz tem feitos pequenas, porém marcantes, participações, como em Boa Sorte (de Carolina Jabor), que também concorre ao prêmio máximo no 6º Paulínia Film Festival.

    Pois ela subiu ao palco do Theatro Municipal ao lado da equipe do longa-metragem, o último a entrar na briga pelos R$ 300 mil que o festival confere ao melhor filme. Antes de anunciar a presença dela, que é considerada a dama da dramaturgia brasileira, a atriz Márcia Cabrita, apresentadora da noite, se escondeu atrás da cortina do palco e simulou estar nervosa por encontrar Fernandona, como é conhecida.

    “O que vocês vão ver aqui é um 'Dominguinhos' com oito anos de idade”, anunciou o outro apresentador, Rubens Ewald Filho, também curador, a respeito do filme de Domingos Oliveira. De fato, o longa-metragem ficcional é um filme de memórias, que fantasia a respeito de um dia na vida do jovem Rodriguinho, que vive com os pais (Paulo Betti e Priscilla Rozenbaum) sob o teto da avó Dona Mocinha (Montenegro), em um casarão no bairro de Botafogo no Rio de Janeiro dos anos 1950.

    Embora o menino – escolhido entre cerca de 250 crianças – seja o protagonista oficial da “crônica”, é a matriarca de pulso filme e humor involuntário quem carrega a trama. Mérito, sobretudo, do trabalho da atriz, que soube aproveitar os bons diálogos do roteiro. “Quando aboliram a escravidão, nenhum escravo foi embora, de tanto que amavam papai”, diz Dona Mocinha, em determinado momento.

    Ela é um “touro”, declarou Domingos (77 anos) sobre a vitalidade de Fernanda (84). “Ela tem uma dignidade de rainha, embora seja uma menina do subúrbio”, ele a definiu.

    A despeito da fraca interpretação das crianças, o filme é um belo trabalho do diretor. A trama é muito bem ambientada no espaço (se passa toda dentro de um casarão) e tempo (de um dia, na década de 1950).

    Apesar da dificuldade na fala e mesmo no caminhar, Domingos, com mais de 15 filmes nas costas, adiantou seu próximo projeto no cinema, que será uma crônica da boemia “dantesca” da Zona Sul carioca em 1963. “Mas não será um filme de lembranças, é uma fantasia”, revelou, para completar “até porque eu não me lembro de nada da época, porque estava bêbado”.

    A História da Eternidade

    A penúltima noite do festival de Paulínia foi aberta por A História da Eternidade, apresentada pelo diretor, Camilo Cavalcante, estreando no formato de longa-metragem de ficção, como uma “fábula das relações humanas”, que se passa no sertão de Pernambuco. O filme é um multiplot de três história que se esbarram.

    Irandhir Santos, que não pôde comparecer, vive (mais) um artista. Desta vez, um epilético, que, à frente de seu tempo – e, principalmente, de seu lugar, conservador – faz da vida da sobrinha (a jovem Débora Ingrid) um pouco mais lúdica. O ator Claudio Jaborandy (Gonzaga – de Pai para Filho) vive o pai da moça, em uma atuação de grande destaque. Já Querência (Marcelia Cartaxo), tenta reconstruir a vida depois de perder um filho. E o ator Maxwell Nascimento (o menino de Querô) interpreta um personagem que foge de São Paulo para se abrigar na casa da avó (Zezita Matos).

    Nota-se que por trás do filme houve uma grande preocupação técnica – no bom sentido. A começar pela trilha sonora, que inclui Dominguinhos (o sanfoneiro) e Zbigniew Preisner, compositor polonês parceiro do cineasta Krzysztof Kieslowski. O mesmo cuidado é percebido no posicionamento da luz e na escolha dos planos. Um cena, em especial, fez a plateia aplaudir efusivamente. Trata-se do momento em que Joãozinho (Irandhir) canta a música “Fala” (conhecida na voz de Ney Matogrosso), em que o diretor envolve o espectador em uma espiral movendo a câmera (travelling) ao redor do personagem. Um belo trabalho.

    Nenhum dos dois filmes tem data de estreia, por enquanto. Neste domingo, serão conhecidos os vencedores do festival, que oferece cerca de R$ 800 mil ao todo.

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