Durante dois meses, a equipe de Sangue Azul viveu imersa na ilha de Fernando de Noronha. A experiência serviu para construir o clima de pertencimento ao ambiente. A ponto de o versátil ator Daniel de Oliveira, em seu papel mais sensual no cinema, declarar neste sábado, no 6º Paulínia Film Festival, que fazer as cenas de sexo “era simples como tomar banhar de sol”.
“A gente chegou com um perfil de turista, de houle e, aos poucos, tomamos a ilha como casa”, corroborou o ator Rômulo Braga.
“Nós poderíamos ter filmado as cenas externas em Fernando de Noronha, e as internas, em um estúdio, como os de Paulínia”, explicou o produtor Renato Ciasca. “Mas não teria o mesmo efeito na tela”, completou.
O efeito a que ele se refere é um total comprometimento do elenco com os personagens, que resultou em um filme de forte tom poético, pelo cineasta pernambucano Lírio Ferreira (Baile Perfumado, realizado em parceria com o conterrâneo Paulo Caldas).
Com um capricho técnico da película, Sangue Azul conta a história de Zolah/ Pedro (Daniel) e Raquel (Caroline Abras), irmãos que são separados na infância pela própria mãe, Rosa (Sandra Corveloni, melhor atriz no festival de Cannes por Linha de Passe), temerosa de que os dois desenvolvessem uma relação incestuosa. Ela manda o menino para o continente, para a trupe do circo Netuno, onde ele se torna o homem bala. Vinte anos depois, Zolah e sua turma armam a lona na ilha paradisíaca, onde ele terá que lidar com as questões do passado.
O filme é um belíssimo trabalho de direção de Lírio, que inova nos planos e consegue tirar excelentes interpretações de um elenco coeso e numeroso, que inclui ainda nomes como Paulo Cesar Pereio, Matheus Nachtergaele, Milhem Cortaz (excepcional como o “homem mais forte do mundo”, homossexual), Armando Babaioff e até o cineasta Ruy Guerra.
No palco, na noite de sexta, 25, ciceroneada pela atriz Maria Flor, o diretor dedicou a exibição ao escritor Ariano Suassuna, morto na última quarta-feira.
Antes, foi exibido outro bom longa-metragem em competição – embora o clima entre os diretores tenha sido mais de amizade do que de rivalidade. O carioca Fellipe Barbosa, que assina Casa Grande, é também colaborador do roteiro de Sangue Azul e, portanto, subiu ao palco do Theatro Municipal de Paulínia duas vezes.
Contrastando com o lirismo do pernambucano, no entanto, Casa Grande é de um realismo raramente visto no cinema brasileiro recente. Sobretudo nos diálogos. Com toques assumidamente autobiográficos, o filme acompanha o desabrochar do jovem Jean (o estreante Thales Cavalcanti), de família rica, com pais (vividos por Marcello Novaes e Suzana Pires) superprotetores, que tentam esconder dele o processo de falência pelo qual estão passando.
“Aconteceu comigo quando eu estava indo fazer mestrado em Nova York, em 2003. Meu pai escondeu isso (a falência) de mim. O filme é uma espécie de fantasia do que teria acontecido caso estivesse no Brasil”, confessou o diretor.
Os filmes ainda não têm previsão de estreia no Brasil.