No terceiro do dia Festival Guarnicê 2014, o AdoroCinema continuou acompanhando os filmes exibidos no Cine Praia Grande, em São Luís (MA).
O documentário Darcy, um Brasileiro foi a primeira projeção do dia. O telefilme de Maria Maia, bastante didático e convencional, apresenta os principais momentos da trajetória intelectual e política de Darcy Ribeiro, com direito a separação por temas ("Exílio", "Academia" etc.) e muitos depoimentos. O filme tem um valor cultural evidente, e se encaixaria bem em uma exibição na televisão ou nas salas escolares. Mas a sua inclusão em um festival artístico é bastante questionável. Além disso, a projeção sofreu com novos problemas: além de o filme ter a marca da TV Senado na imagem, a projeção foi feita sobre uma tela de tecido ondulada, e a janela de projeção estava incorreta, esticando a imagem como se quisesse transformar o formato mais quadrado da televisão em algo próximo do formato retangular da maioria dos filmes no cinema.
Chegada a hora dos curtas-metragens em competição, o público presenciou obras mais ambiciosas do que no dia anterior. Alguns filmes pareciam deslumbrados demais com os efeitos especiais e movimentos de câmera (o paulista Espantalhos) e outros insistiram em um existencialismo banal (o maranhense O Despertar de Sísifo), mas diversos filmes mereceram os aplausos calorosos da plateia lotada. A Despedida (foto acima), de Lucas Ogasawara, é de longe o melhor curta-metragem apresentado até o momento, com uma narrativa coerente e fotografia deslumbrante. De cunho social e antropológico, Natal de Tonho, sobre a vida dos catadores de lixo, e Manchik, sobre uma tribo indígena, também se destacam. Com a boa média de curtas apresentados, apenas a escolha de PM - Policial Mágico é indefensável: por que os curadores teriam selecionado uma piada tão infame?
A noite trouxe o segundo longa-metragem em competição, o maranhense O Exercício do Caos. O diretor Frederico Machado esteve presente na sessão, demonstrando o orgulho de ter o seu filme projetado em um cinema do Estado. A trama gira em torno de uma família devastada pelo desaparecimento da mãe. Autoritário, o pai controla a vida das três filhas. Com uma narrativa fragmentada e imagens sombrias da paisagem rural maranhense, o filme surpreendeu e também revelou a produção autoral local, felizmente valorizada pela curadoria do Guarnicê.
Nesta quinta-feira, o longa-metragem em competição será o documentário paulista Mataram Meu Irmão, de Cristiano Burlan da Silva.
Crítica
Triunfo - O som contra a imagem