Nesta quarta-feira, o AdoroCinema foi assistir a mais dois longas-metragens em competição, e cinco curtas-metragens exibidos no Rio Festival Gay de Cinema 2014. O conteúdo dos filmes não poderia ser mais diferente, um defendendo a liberdade total dos corpos, e o outro apoiando a relação de dominação e submissão entre homens.
Pinta surpreendeu os espectadores do festival com a sua abordagem poética e underground. O filme apresenta uma colagem de cenas líricas envolvendo corpos em movimento, em cenas que remetem, direta ou indiretamente, à dança. Além de possuir momentos belíssimos, hilários e instigantes, o filme de Jorge Alencar consegue evocar uma herança da chanchada e do cinema marginal sem saudosismo, adaptando essas linguagens para a temática da pluralidade sexual e para os tempos contemporâneos. De longe, o melhor longa em competição até agora.
A seleção de curtas-metragens número 9 exibiu filmes bastante fracos. O brasileiro Ontem à Noite (foto acima), de Henrique Oliveira, pretende mostrar de maneira impactante uma agressão transfóbica, mas acaba sendo perturbadoramente conivente com os agressores e seus cúmplices. O sul-coreano So-nyeon-gwa Yang, de Lee Hyung-suk, traz uma história simples e naturalista no campo, embora termine de maneira abrupta e pouco convincente, parecendo uma boa oportunidade desperdiçada.
Canto de Outono (foto acima), de André Antônio, é o típico curta-metragem experimental que sempre marca presença em festivais de cinema, mesclando leitura de poemas de Baudelaire com jovens dançando em uma festa. Soa um tanto pretensioso, além de ter atores visivelmente desconfortáveis com a presença da câmera. Já Rótulo, de Felipe Cabral, pretende discutir as noções de "hétero", "homo", "bi" e outros, mas de maneira um tanto anedótica e inconclusiva. Por fim, o curtíssimo Love Wars, de Vicente Bonet, não passa de uma piada com dois Stormtroopers apaixonados.
Para terminar o dia, o festival apresentou Power Erotic, mais um documentário de caráter sociológico, após I'm a Porn Star. O diretor Lawrence Ferrara pretende mostrar que a agressividade é algo natural ao homem, e que traumas psicológicos na infância podem ser determinantes nas relações amorosas e sexuais entre gays, instituindo o prazer obtido através da submissão ou dominação. A tese é questionável, e o filme acaba por fazer um elogio do homem como naturalmente agressivo, e desta agressividade como sinal de virilidade. É um discurso intensamente repetido em seus longos 72 minutos, mas que poderia ganhar mais profundidade se colocasse a agressividade masculina em um contexto cultural, ao invés de biológico.