Na tarde de sábado, 5 de julho, o AdoroCinema visitou o Rio Festival Gay de Cinema e assistiu a mais um longa-metragem inédito e uma sessão de curtas. Em comum, as exibições conferiam grande destaque ao debate sobre a transexualidade, em suas diversas formas, com os filmes What's the T?, Assim e Trans*lúcidx.
A sessão de curtas-metragens número 5 apresenta uma escolha curiosa da curadoria, combinando filmes completamente diferentes entre si. O péssimo Milk and Vodka foi o primeiro exibido. Esta história ultra idealizada de amor entre duas mulheres mais parecia algum novelão americano, em estilo Days of our Lives. Felizmente, os filmes brasileiros elevaram o nível: Laio (foto acima) assume a difícil tarefa de imaginar o que leva um homem heterossexual a cometer um ato homofóbico. O filme é tecnicamente surpreendente, e embora a tese defendida seja polêmica (sugere-se que a frustração com a própria virilidade seja responsável pela pulsão agressiva), a obra é bela e ambiciosa.
Assim decide mostrar um dia comum na vida de duas travestis. Entre cenas comuns (banho, maquiagem, vestimentas) e retratos de preconceito, o filme faz uma pequena crônica que não se aprofunda, sem julgar nada nem ninguém. No momento em que surgem as cenas de transfobia, a diretora Keila Serruya simplesmente corta a cena e passa a outro episódio na vida das personagens, retirando a gravidade destes atos. Já Trans*lúcidx (ilustração acima) opta por uma leitura metafórica e intelectual (o filme se abre com uma citação de Merleau-Ponty) sobre a configuração dos corpos. É curioso que a diretora Tamíris Spinelli prefira o anonimato das transexuais, evitando rostos e nomes. Mesmo assim, as fusões de imagens de corpos masculinos e femininos causam grande impacto, assim como as cenas de cirurgias de redesignação de gênero. Por fim, Shopping retornou ao aspecto romântico, ingênuo, beirando o patético. O curta-metragem é tão simples e pueril que despertou risos na plateia.
Passando aos longas-metragens, What's the T? apresenta a trajetória de cinco transexuais. O diretor Cecilio Asuncion quer saber como estas personagens namoram, trabalham, comem, se vestem, se definem. O panorama é bastante vasto e não muito aprofundado, mas a intenção do diretor parece ser menos um tratado político do que um apanhado otimista sobre essas pessoas - Asuncion evita qualquer história negativa sobre violência ou prostituição, por exemplo. Apesar de aspectos técnicos bastante deficientes, What's the T? ganha em espontaneidade e leveza, proporcionando uma sessão muito agradável.