O diretor Philippe Claudel visitou o Rio de Janeiro no último mês de abril e conversou com exclusividade com o AdoroCinema. Ele falou sobre seu novo filme, Antes do Inverno, que acaba de chegar aos cinemas brasileiros. Falou ainda sobre a parceria com Kristin Scott Thomas e Daniel Auteuil, sobre suas referências e sobre a atual situação do cinema na França. Confira a conversa completa abaixo!
Como nasceu o projeto?
O que me interessou foi trabalhar com um casal que na aparência é completamente feliz, com um homem que aparentemente é muito feliz, que representa uma forma de conquista social. Pouco a pouco vou mostrando que tudo não passa de uma imagem, que a realidade é menos certa, que a vida deles não tem vida.
É a segunda vez que você dirige Kristin Scott Thomas. Como é trabalhar com ela?
É muito difícil. A Kristin é o tipo de atriz que você tem que discutir sempre. Não é simples. Ela propõe alguns caminhos que não são bons. Todo dia temos que dizer “não” e ela não gosta de ouvir “não”. Todo dia temos grandes batalhas.
E com o Daniel Auteuil?
Com ele é muito simples. O Daniel é um grande profissional, um grande ator. Ele é extremamente simpático e compreende muito bem seu personagem, a história. É formidável.
Como foi a seleção do elenco?
Achei que foi uma boa ideia reunir Daniel e Kristin, formam um bom casal e gostei do resultado, ainda que seja difícil trabalhar com ela. Richard Berry interpreta o melhor amigo. Ele é um ator muito bom, com formação clássica, mas que nos últimos anos tem feito mais comédias e filmes de ação. E ainda tem a Leïla Bekhti, uma jovem atriz do cinema francês, que é extraordinária. Tem um talento que lhe permite fazer comédias e também papéis mais complexos, como aqui. Foi interessante ter alguém como ela para encarrar esta personagem.
Trata-se de um roteiro original. Quais foram suas inspirações?
Não sem bem como me chegam as ideias... Vem de observar os outros, de imaginar. Também falo de mim. Não é autobiográfico, mas trata de questões que me interessam.
A trilha sonora é fundamental da história. Como foi trabalhar com a música?
Duas coisas eram importantes para mim neste filme. Uma é La Bohème, de Puccini, uma ópera que eu amo muito e que quis utilizar de forma que emocionasse. Pedi para o compositor André Dziezuk pegar a melodia de La Bohème e fazer variações, que aparecem no filme de tempos em tempos. E depois tem aquela canção no final. Cheguei a pensar em uma canção de Johnny Cash “Love's Been Good To Me”, mas quando coloquei no filme, vi que não ficou bom. Preferi pegar uma canção francesa, trágica, que fala da morte e do amor.
Por que a escolha do título Antes do Inverno?
São duas as razões. Uma simbólica, que está na chegada do inverno da vida, com um personagem com mais de 60 anos, prestes a se aposentar, perto da última estação de sua vida. E a razão meteorológica, que está no desejo de filmar o frio e as cores do outono, que são as cores do meu país. Morro nesta região, no nordeste da França, e quis filmar esta época do ano, que é visualmente muito interessante.
Como o trabalho de escritor ajuda você como diretor?
Penso que são coisas complementares. Amo escrever romances. Amo trabalhar sozinho. Mas também amo trabalhar em equipe e juntos fabricar uma história que criei na minha cabeça.
Quais são seus próximos projetos?
Estou escrevendo um novo livro. E também preparo meu próximo filme, que devo começar a rodar em julho. O personagem principal é uma criança de 12 anos. A história gira em torno de um verão desta criança. Ele tem uma família muito complicada e luta para preservar uma parte de sua infância.
Como vê a situação do cinema francês nos dias de hoje?
Temos um cinema muito ativo e produtivo. Realizamos mais de 250 longas por ano, o que é muito. E temos a chance de ter um cinema muito diversificado. São vários cineastas trabalhando com estilos diferentes uns dos outros, o que é muito bom.
Quais as suas principais referências cinematográficas?
É difícil responder, não está neste filme, mas no anterior. Gosto muito das comédias italianas dos anos 50 e 60. Monicelli, Dino Risi, Fellini, Scola. Amo muito o cinema noir americano. E também o cinema francês dos anos 30, com Julien Duvivier, Renoir.