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    FICA 2014: “Orçamentos grandes resultam em filmes menos interessantes”, diz Robert Stam

    Aclamado estudioso do cinema, teórico, que já dividiu apartamento com Glauber Rocha, falou sobre hibridização nesta sexta-feira no Festival. Na próxima semana, ele estará na ECA/ USP para palestra.

    Ele escreveu mais de 30 livros, incluindo a edição de uma compilação de textos de autores brasileiros publicado nos Estados Unidos ("Brazilian Cinema", de 1982). Lecionou na Tunísia, na França e no Brasil. Foi casado com uma brasileira e abrigou o cineasta Glauber Rocha por duas vezes em seu apartamento em Berkeley, nos Estados Unidos, onde também organizou um festival de cinema tupiniquim. E não gosta de finais felizes.

    Ele é o americano Robert Stam, teórico do cinema que atualmente dá aula na Universidade de Nova York. O pensador esteve no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) nessa sexta-feira, onde, a partir de seus conceitos de pensamento multicultural e multidisciplinar – suas pesquisas abordam diversas artes –, falou sobre a hibridização dos gêneros documental e ficcional. (Se bem que a palavra “gênero” não se encaixa na teoria do estudioso, como deixou claro. Ele prefere o termo “transtextualidade”).

    A aula ministrada na Cidade de Goiás, ilustrada por trechos de sete filmes, teve como foco seus estudos sobre a influência da cultura e do pensamento indígena no continente americano e na Europa, especialmente na França. Entre as obras, Também a ChuvaO Ato de Matar e, claro, Terra em Transe. “Sempre que revejo esse filme (Terra em Transe), encontro coisas novas”, disse. Em comum, todos apresentavam, em algum grau, elementos ligados à “reencenação”.

       

    Outro cineasta brasileiro elogiado por Robert Stam foi o documentarista Eduardo Coutinho. A despeito da frieza comumente associada ao cinema documental, de uma forma geral, o teórico afirmou que o cinema de Coutinho era “autoconsciente, porém ‘quente’”.

    Aliás, simpático, apesar da erudição, o pensador não economizou nas frases de efeito. Disse que “em termos políticos, orçamentos grandes normalmente resultam em filmes menos interessantes”; e que “A TV a cabo, nos Estados Unidos, é (Stanley) Kubrick”, se comparada como a baixa qualidade da programação das redes abertas.

    Depois da palestra, Stam conversou rapidamente com o AdoroCinema. Preferiu não arriscar uma opinião sobre o atual momento do cinema brasileiro, sobre o qual disse estar desatualizado. E adiantou que vai exibir na aula que dará na Escola de Comunicação da Universidade de São Paulo na próxima semana o filme Offside (algo como “impedimento”), do cineasta iraniano Jafar Panahi (de Através das Oliveiras). “É um filme genial sobre a segregação de gênero no futebol iraniano. Ele fez um filme sobre as mulheres que se fantasiam de homem para entrar no estádio”.

    Sobre Glauber, Robert Stam lembra com admiração: “era a figura menos colonizada que já vi na vida. Os jornalistas vinham à minha casa e ele não fazia a mínima questão de falar com eles. Era rude mesmo. Mas era uma fonte de ideias fantásticas".

    O Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) termina neste domingo, 1 de junho.

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