Ele escreveu mais de 30 livros, incluindo a edição de uma compilação de textos de autores brasileiros publicado nos Estados Unidos ("Brazilian Cinema", de 1982). Lecionou na Tunísia, na França e no Brasil. Foi casado com uma brasileira e abrigou o cineasta Glauber Rocha por duas vezes em seu apartamento em Berkeley, nos Estados Unidos, onde também organizou um festival de cinema tupiniquim. E não gosta de finais felizes.
Ele é o americano Robert Stam, teórico do cinema que atualmente dá aula na Universidade de Nova York. O pensador esteve no Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) nessa sexta-feira, onde, a partir de seus conceitos de pensamento multicultural e multidisciplinar – suas pesquisas abordam diversas artes –, falou sobre a hibridização dos gêneros documental e ficcional. (Se bem que a palavra “gênero” não se encaixa na teoria do estudioso, como deixou claro. Ele prefere o termo “transtextualidade”).
A aula ministrada na Cidade de Goiás, ilustrada por trechos de sete filmes, teve como foco seus estudos sobre a influência da cultura e do pensamento indígena no continente americano e na Europa, especialmente na França. Entre as obras, Também a Chuva, O Ato de Matar e, claro, Terra em Transe. “Sempre que revejo esse filme (Terra em Transe), encontro coisas novas”, disse. Em comum, todos apresentavam, em algum grau, elementos ligados à “reencenação”.
Outro cineasta brasileiro elogiado por Robert Stam foi o documentarista Eduardo Coutinho. A despeito da frieza comumente associada ao cinema documental, de uma forma geral, o teórico afirmou que o cinema de Coutinho era “autoconsciente, porém ‘quente’”.
Aliás, simpático, apesar da erudição, o pensador não economizou nas frases de efeito. Disse que “em termos políticos, orçamentos grandes normalmente resultam em filmes menos interessantes”; e que “A TV a cabo, nos Estados Unidos, é (Stanley) Kubrick”, se comparada como a baixa qualidade da programação das redes abertas.
Depois da palestra, Stam conversou rapidamente com o AdoroCinema. Preferiu não arriscar uma opinião sobre o atual momento do cinema brasileiro, sobre o qual disse estar desatualizado. E adiantou que vai exibir na aula que dará na Escola de Comunicação da Universidade de São Paulo na próxima semana o filme Offside (algo como “impedimento”), do cineasta iraniano Jafar Panahi (de Através das Oliveiras). “É um filme genial sobre a segregação de gênero no futebol iraniano. Ele fez um filme sobre as mulheres que se fantasiam de homem para entrar no estádio”.
Sobre Glauber, Robert Stam lembra com admiração: “era a figura menos colonizada que já vi na vida. Os jornalistas vinham à minha casa e ele não fazia a mínima questão de falar com eles. Era rude mesmo. Mas era uma fonte de ideias fantásticas".
O Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA) termina neste domingo, 1 de junho.