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    Entrevista exclusiva com Amat Escalante, diretor do premiado Heli

    Filme mexicano ganhou o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes do ano passado.

    Em pleno Festival de Cannes, chega aos cinemas brasileiros um filme premiado na edição do ano passado do festival. Trata-se de Heli, longa-metragem mexicano que rendeu o prêmio de melhor diretor a Amat Escalante. Tivemos a chance de conversar com o diretor quando ele visitou o Brasil no ano passado, durante o Festival do Rio. Confira abaixo os principais momentos da entrevista.

    ALTO GRAU DE VIOLÊNCIA

    Heli impressiona bastante pelo alto grau de violência na história, não apenas psicológica mas também visual. "Não calculamos qual seria o limite de violência", revelou o diretor. "Para mim, o importante era como a cena seria percebida dentro do filme. Desta forma, pude experimentar o quanto poderíamos mergulhar nesta situação. Sem esta atmosfera, pareceria que faltava algo. Era importante mostrar não apenas o que aconteceria de violento, mas também o contexto desta violência."

    A CENA COM O FILHOTE

    Uma das cenas mais impactantes e violentas de Heli envolve um pequeno cachorro que foi dado de presente à personagem Estela (Andrea Vergara). Perguntamos ao diretor como foi rodar esta sequência. "Gosto muito de documentários sociais e de filmes de horror, então tentei misturá-los. A ideia era pegar de surpresa e causar impacto. Além disto, nosso cérebro está meio que preparado para cenas de violência com outras pessoas, mas com um cachorro não há esta proteção prévia. Então usamos um filhote para chocar mesmo."

    DIFERENÇA DE IDADE

    Algo que chama bastante a atenção é a diferença de idade entre Estela e seu namorado, Beto (Juan Eduardo Palacios), já que ela tem apenas 12 anos e ele já está no serviço militar. "No México é mais comum esta diferença de idade", comentou o diretor. "A inspiração foi a cidade de Guanajuato, onde as filmagens aconteceram. Lá é comum ver nas ruas meninas de 13 anos grávidas ou com bebês, a juventude delas é perdida por causa disto. Há muita ignorância em relação às questões sexuais, principalmente por causa da religião."

    Amat ainda contou uma curiosidade das filmagens, relacionada a este assunto. "O bebê visto em cena, de seis meses de idade, era filho de uma garota de 14 anos que estava nos sets de filmagens."

    TRISTE IDENTIFICAÇÃO

    Devido ao cenário apresentado no filme ser bastante parecido com o existente em vários países da América Latina, o Brasil inclusive, perguntamos ao diretor se isto poderia auxiliar na identificação da história pelos espectadores locais. "Percebi aqui no Rio que, assim como aconteceu no México, as pessoas entenderam muito melhor o filme do que em Cannes. Lá a violência fica meio como que um pano de fundo, enquanto que a América Latina ela está mais visível para todos nós."

    O CINEMA MEXICANO HOJE

    Pelo cenário apresentado por Amat Escalante, a realidade cinematográfica no México não é tão diferente assim da vista no Brasil. "Muitos filmes são produzidos no México, graças aos fundos oferecidos pelo governo através de incentivos fiscais. Temos em torno de 70 filmes lançados por ano, o que é muito. O problema é lançar os filmes no cinema, cerca de 25% ou 30% dos produzidos conseguem chegar ao circuito comercial. Em 2013 tivemos dois filmes que fizeram muito sucesso, um deles batendo todos os recordes locais. No primeiro dia de exibição, ele levou 750 mil pessoas aos cinemas. Heli, há nove semanas em cartaz, tem um público de 100 mil pessoas. Trata-se de algo muito diferente do meu filme, uma comédia produzida por uma grande emissora de TV, que foi lançada em mais de mil salas de cinema. Meu filme, apenas como comparação, foi lançado em 30 cinemas."

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