Se a primeira metade do Festival de Cannes apresentou poucos filmes de destaque - apesar de quase sempre serem de boa qualidade -, parece que a reta final do evento reservou os principais candidatos aos prêmios principais. Após a exibição consagradora de Foxcatcher ontem, hoje foi a vez dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne apresentarem seu novo trabalho, o drama Deux Jours, Une Nuit. O resultado? Uma verdadeira ovação da imprensa internacional após a sessão.
O longa-metragem acompanha a peregrinação de Sandra (Marion Cotillard) aos seus colegas de trabalho no período descrito no título: dois dias e uma noite. O motivo é que a empresa em que trabalha está prestes a demiti-la, a não ser que a maioria dos demais funcionários aceite abrir mão de seu bônus anual. Precisando do emprego para sustentar a família, ela bate de porta em porta em busca de apoio, já que haverá uma votação secreta para decidir a questão na segunda seguinte.
Conhecidos pelo seu cinema bastante humano, os Dardenne desta vez se voltam para os reflexos do capitalismo, ecoando ainda a recente crise econômica que atingiu a Europa. A batalha enfrentada por Sandra, individualismo contra solidariedade, é travada com bastante sensibilidade por Marion Cotillard, a alma do filme. É ela quem sofre por ter que pedir tanto aos colegas, sentindo na pele tanto as negativas quanto os apoios que recebe.
Bastante enxuto e incisivo, Deux Jours, Une Nuit é um belo filme que fala muito sobre a consciência perante o outro. Já está entre os principais candidatos aos prêmios concedidos pelo júri liderado por Jane Campion, juntamente com Foxcatcher, Winter Sleep, Mr. Turner e Relatos Salvajes.