Cannes é um festival que gosta de lamber suas crias. Ou seja, se você foi premiado em alguma edição tem grandes chances de retornar à mostra competitiva nos anos seguintes. Este é o único motivo possível para que Captives, novo filme dirigido por Atom Egoyan, tenha sido selecionado para a mostra competitiva. Vale lembrar que o diretor ganhou a cobiçada Palma de Ouro em 1997, por O Doce Amanhã.
A história até parte de uma premissa interessante. Um homem estaciona o carro para fazer uma rápida compra e deixa a filha de nove anos dentro do veículo, no banco de trás. Quando retorna, ela desapareceu. A polícia entra na jogada, mas nada descobre. Até que, seis anos depois, a garota ressurge em uma investigação sobre pedofilia.
Até este ponto, Egoyan segue a velha cartilha do cinemão americano. Seu objetivo é entregar um suspense comercial, sem grandes ambições, estrelado por alguns atores conhecidos - leia-se Ryan Reynolds e Rosario Dawson. Só que a tal garota sequestrada, por mais que tenha sido mantida em cativeiro por todos estes anos, participa da grande rede de pedofilia! Sim, é isso mesmo, ela conversa com crianças pela internet para atraí-las e ainda acredita que está ajudando-as!!! Para completar, a tal organização conta com inúmeros capangas e mecanismos tecnológicos, que permitem que a sequestrada consiga acompanhar, via TV, o cotidiano de seus pais.
Esta é apenas uma parte da série de absurdos mal explicados do filme. Há o policial boa pinta, interpretado pelo limitado Scott Speedman, que praticamente não tem função na trama. Há o desfecho, tão simplório que até contrasta com a imensa capacidade da organização demonstrada até então. E há Ryan Reynolds, o recordista das escolhas equivocadas em Hollywood. É impressionante a quantidade de filmes ruins que ele tem no currículo.
Diante de uma história tão mirabolante, o resultado foi uma considerável debandada na exibição feita para a imprensa. É, de longe, o pior filme exibido no festival deste ano.