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    Entrevista exclusiva: Ângelo Antônio fala sobre a história de ressurreição em Entre Vales

    O ator interpreta Vicente, homem que enfrenta um trauma e torna-se morador de rua.

    Estreia nesta quinta-feira, dia 8 de maio, o drama brasileiro Entre Vales, dirigido por Philippe Barcinski. A história apresenta Vicente (Ângelo Antônio), um homem que leva uma vida confortável ao lado da esposa e do filho, até enfrentar uma tragédia. Depois deste momento, ele passa a morar nas ruas, e trabalhar como catador de lixo.

    O ator conversou em exclusividade com o AdoroCinema sobre as dificuldades de fazer este papel, que o obrigou a realmente dormir nas ruas e trabalhar nos lixões. Ainda marcado pelo misticismo de seu personagem na novela Joia Rara, como ele mesmo admite, Ângelo Antônio vê no filme uma trajetória de transformação e ressurreição. Confira:

    Como você entrou no projeto de Entre Vales?

    Teve uma época em que o Fernando Meirelles me aconselhou a fazer um filme com o Philippe Barcinski, que era Não Por Acaso (2007). Acabou não rolando, mas muito tempo depois, quando eu já tinha ouvido falar dele e já tinha visto o filme, apareceu o Entre Vales. Eu gostei da possibilidade e aceitei na hora. Mas já faz muito tempo, eu nem me lembro da primeira vez que li o roteiro... 

    Justamente, este projeto chega aos cinemas muitos anos depois das filmagens. Como você se sente agora que o filme está estreando?

    Eu fico muito feliz com o que as pessoas estão sentindo com o filme. É um filme difícil, árido, duro, silencioso, mas as pessoas estão se emocionando, e vivendo esse processo de transformação e ressurreição com o personagem. Em São Paulo e Belo Horizonte, eu fiquei muito surpreso com a reação das pessoas.

    Como você apresentaria o seu personagem?

    A gente vive a nossa vida, mas em um segundo tudo pode mudar. Por isso é preciso estar muito alerta, para saber que tudo está mudando, e que as mudanças são bem-vindas, mesmo que pareçam difíceis. Não adianta querer se apegar a nada, porque estamos sempre nos transformando. Talvez eu use essa linguagem porque tem a ver com o personagem que eu fiz em uma novela: ele é um monge, que também pensa em transformação e desapego. E esse é o movimento do personagem. Eu nunca pensei que ia passar pelos caminhos que passei com esse personagem, por onde ele e o filme me levaram. Eu dormi na rua, com os outros catadores de lixo, e conheci a realidade deles. É duro, mas eu vi pessoas com orgulho de terem trabalhado ali, e terem sustentado os filhos com o lixo.

    Como foi a sua experiência no lixão? Como você conseguiu entrar nesse ambiente e ser aceito pelas pessoas de lá?

    Depois de um tempo que eu estava com eles, me disseram: “Você virou um catador! E eu pensava que ator só servia para beijar mulher bonita!” Existiu um movimento intenso, de admiração e convivência. Encontrei pessoas que achavam que eu realmente morava na rua, e elas vinham, traziam uma cachacinha, compartilhavam suas histórias. Eu tive a chance de viver isso na minha vida.

    O diretor disse ter te escolhido para o filme porque você é “tão bom na potência quanto na ternura”, algo especialmente importante para uma obra silenciosa.

    Eu fico feliz! Esses são os dois lados que a gente tem: Ângelo e Vicente, o escuro e o claro, o doce e o amargo... A gente é assim mesmo. Quando um ator consegue ter essas duas ferramentas, é um privilégio. Eu tenho uma tendência a trabalhar de maneira silenciosa, para mim é mais difícil falar do que ficar quieto... Foi uma boa coincidência. O Philippe sabia o que estava fazendo.

    Além da experiência com os moradores de rua, quais referências você usou para compor o personagem?

    Tem um filme que eu vi, o Biutiful, com o Javier Bardem, que tem tudo a ver com essa história. Existe o pai, com o desespero, aquela dificuldade, aquela escuridão. Este filme foi muito importante para mim.

    Como você escolhe os seus papéis no cinema? Em Entre Vales, você interpreta novamente uma figura paterna muito forte, como na maioria dos seus filmes...

    É verdade. Eu escolho, mas acho que a gente também é muito escolhido pelos diretores, pela história, pelos personagens. Quando dá certo de poder fazer esses filmes, é um acontecimento. A partir do momento que eu quero, e que o personagem me escolhe, existe um encontro. Você planta, e as coisas acontecem.

    Quais são os seus próximos projetos na televisão e no cinema?

    Existem várias possibilidades, mas tudo só vai acontecer na hora que acontecer. Tem a possibilidade de fazer um filme do Vinícius Coimbra, baseado em Macbeth, um filme do David Schurmann, sobre a família deles, tem a possibilidade de um filme da Carolina Kotscho e do Bráulio Mantovani ano que vem, tem o filme da Tizuka Yamasaki que vai ser lançado... E mais novelas, claro. Acabei de fazer uma, mas até o final do ano terão mais oportunidades.

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