Foi dado o pontapé inicial para o Cine PE Festival do Audiovisual! A 18ª edição do evento começou neste sábado, 26 de abril, com a exibição de 10 curtas e do longa O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson, no Cine Teatro Guararapes, em Olinda.
A organização do evento optou por reunir quase todos os curtas das programação em sua noite de abertura, o que tornou a sessão um pouco maçante. Dos curtas selecionados, sobraram três para serem exibidos nos próximos dois dias.
Os cinco primeiros filmes exibidos integram a Mostra Pernambuco. Tesouros do Araripe: Os Fósseis da Comunidade, de Tito Aureliano, abriu a sessão de curtas apresentando um cenário pouco conhecido no Brasil e, até mesmo, em Pernambuco, que é o acervo de fósseis localizados na região de Exu, que atrai o interesse de traficantes de fósseis internacionais, mas que é ignorado pela comunidade local. É didático e passa uma mensagem importante de preservação, mas funciona mais como uma reportagem do que cinema em si. Possui problemas de ritmo e uma trilha sonora permanente e irritante.
Au Revoir, de Milena Tirnes, foi exibido na sequência, retratando a história de uma garota que estuda na França e que sofre por não poder ajudar a mãe, que está doente no Brasil. Diante de um problema de saúde de uma senhora francesa que mora ao seu lado, ela acaba "adquirindo" uma mãe substituta para cuidar. A trama é delicada e as atuações de Rita Carelli e Gigi Bandler chamam a atenção. Talvez não consiga produzir tanta emoção quanto pretendia, mas é eficaz ao contar uma história de encontros e, como o título já diz, despedidas.
Ponta de Pedros e Pedras, de Hermano Figueiredo, é mais um documentário interessante que reforça a importância de se proteger a cultura pernambucana. Apresenta uma personagem muito interessante, Maria de Lourdes, que é uma mulher que valorizou a presença feminina em um universo eminentemente masculino, que são as colônias de pescadores. O filme é muito simples, quase amador.
Escrito, dirigido, produzido, fotografado e montado por Danilo Baracho, Severo (foto acima) é uma megaprodução perto dos demais curtas exibidos. Conta com efeitos visuais, uma edição frenética e uma trilha sonora com nomes como Tom Zé. Tem problemas em acertar o discurso político proposto, funcionando melhor como obra de ficção. Gira em torno de dois irmãos de uma favela do Recife. Um é um criminoso e o outro vai para a escola e sonha em ser jogador de futebol. A mãe valoriza o primeiro por levar dinheiro para casa.
Rabutaia, de Brenda Lígia, fechou os curtas da Mostra Pernambuco, contando a história do casal Gilson Silva e Diva Iza Miguel da Silva. O documentário é interessante, propondo uma homenagem a todos os Silvas do Brasil a partir da dupla citada, com destaque para Gilson. São bons personagens, mas o filme não empolga.
>A mostra competitiva Curta Brasil teve seu início com a exibição de O Filho Pródigo, de Felipe Arrojo Poroger. O curta possui uma trama interessante, com uma família formada por um pai desempregado, uma mãe cega, um filho adolescente e outro filho desaparecido. Investe em reviravoltas e de fato consegue surpreender o espectador ao longo de seus 15 minutos. A duração, por sinal, joga contra o filme, que não consegue concluir a história de forma satisfatória.
Dirigido pelo veterano Luiz Rosemberg Filho, Linguagem (foto acima) trouxe o ar experimental para o Cine PE. Com citações de Walter Benjamin, Albert Camus, Rudyard Kipling, Friedrich Nietzsche e Orson Welles, o curta investe em uma colagem de retratos que se posiciona politicamente, presta homenagens, ainda que não intencionais (para o recém-falecido Ricardo Miranda) e faz uma declaração de amor: "Cinema, eu te amo". Com uma bela trilha sonora, o curta perde um pouco da força estética na entrada da atriz Priscyla Bettin, que traz com ela um discurso um pouco vazio e que parece querer chocar por chocar e abraçar o mundo, criticando a TV e a presença da religião na política. Ao final, a obra se volta para a política internacional questionando com todas as letras o prêmio Nobel da Paz para Obama. Tem seus problemas, mas sem dúvida foi o curta mais questionador e diferente da noite.
No Tiro do Bacamarte... Explode a Cultura Pernambucana!, de Xisto Ramos, também valorizou a cultura pernambucana ao apresentar uma tradição bem interessante, dos bacamarteiros. Defende a preservação da história e consegue entreter o espectador.
No Movimento da Fé, de Fernando Segtowick e Thiago Pelaes, foi um dos principais destaques da noite. Retrata a preparação para o Círio de Nazaré, no Pará, a partir dos olhos dos voluntários, dos militares e da cruz vermelha. Conta com uma excelente montagem e com uma trilha sonora excelente, que não insiste em transmitir a emoção que já está na tela. Apenas contribui para isso. Trata-se de um registro impressionante.
O paranaense Notícias da Rainha, de Ana Johann, fechou a sessão de curtas contando a história de Lucia Cecília Kubis, eleita rainha do rádio curitibano. A história é interessante, mas o ritmo lento prejudica o andar da produção. É importante destacar a qualidade do trabalho de direção de arte e design de produção.
Passados os curtas, chegou a hora de conferir O Grande Hotel Budapeste. E o filme de Wes Anderson não decepcionou. O diretor realizou um de seus mais belos trabalhos investindo em sua tradicional melancolia, em um roteiro afiado e em um super elenco, com nomes como Ralph Fiennes, F. Murray Abraham, Adrien Brody, Willem Dafoe, Mathieu Amalric, Jude Law, Saoirse Ronan, Jason Schwartzman, Harvey Keitel, Jeff Goldblum, Tilda Swinton, Owen Wilson, Tom Wilkinson, Edward Norton, Léa Seydoux e, é claro, Bill Murray. Precisa de mais?! Pois o filme ainda consegue introduzir um excelente e jovem ator: Tony Revolori. O filme é belíssimo, conta com uma trilha sonora incrível e com uma estética primorosa, como é comum nos longas do diretor. Crítica completa em breve no site.
O Cine PE continua até o próximo dia 2 de maio. O AdoroCinema está em Recife para a cobertura do evento e continua trazendo o que de melhor acontece para vocês.