por Bruno Carmelo
A 4ª edição do festival Cinerama.BC chegou ao fim, com uma cerimônia de agradecimentos e entrega de prêmios. O organizador do evento, André Gevaerd, e a curadora Barbara Sturm destacaram a evolução do festival, que registrou pela primeira vez 3.700 espectadores, além de ter um número recorde na inscrição de filmes, nas produções internacionais, nos convidados e nas atividades extras, como palestras e oficinas.
A entrega dos prêmios foi curiosa: o júri apostou não nos elementos que melhor contribuíram para os filmes, mas naqueles que chamaram mais atenção para si mesmos. Assim, o prêmio de melhor edição foi entregue ao filme mais freneticamente picotado (A Estranha Cor das Lágrimas do seu Corpo), o prêmio de melhor roteiro foi à história com mais idas e vindas no tempo e maior mistura de gêneros (Cruzeiro ao Paraíso), o prêmio de melhor direção foi entregue ao filme com imagens e enquadramentos mais chamativos, que se sobrepunham à narrativa (Violet). Pelo menos o prêmio principal fugiu a essa regra, sendo atribuído ao belo documentário O Dia do Mineiro. Entre os curtas-metragens, o vencedor foi Gaivotas, certamente a maior produção entre os curtas, com imagens rebuscadas e elegantes.
Confira os vencedores:
Melhor filme: O Dia do Mineiro, de Gael Mocaer
Melhor direção: Bas Devos (Violet)
Melhor ator: Oz Zehavi (Cruzeiro ao Paraíso)
Melhor atriz: Mira Banjac (Mamarosh)
Menção honrosa à edição: A Estranha Cor das Lágrimas do Seu Corpo
Menção honrosa ao roteiro: Cruzeiro ao Paraíso
Prêmio do público: Mamarosh
Prêmio da crítica: coletânea dos trabalhos de Hans Op de Beeck
Melhor curta-metragem: Gaivotas, de Zeno Graton
Menção honrosa por excelência técnica em curta-metragem: Norman, de Robbe Vervaeke
O Dia do Mineiro
Todos os vencedores agradeceram muito à iniciativa do festival, ressaltando que seus pequenos filmes independentes necessitam de eventos do tipo para ganhar visibilidade. De fato, o Cinerama.BC conseguiu selecionar e exibir obras bastante atípicas, com poucas chances de integrar festivais grandes (Cannes, Berlim, Veneza) e chances menores ainda de chegarem aos circuitos comerciais. No entanto, seria interessante que a curadoria refletisse mais, nos próximos anos, à coerência da seleção, e ao tipo de cinema que pretende valorizar. Afinal, é difícil descobrir quais valores ligam o ultra estetizado Violet ao amador Fugindo do Amanhã, o terror fantástico de A Estranha Cor das Lágrimas do Seu Corpo à comédia popular Mamarosh. Os filmes têm seus valores individuais, mas como conjunto, não conseguem carregar nenhum discurso específico sobre o cinema.
A cerimônia se encerrou com a projeção da comédia A Pelada, a primeira coprodução de todos os tempos entre o Brasil e a Bélgica. A comédia mostra um casal em crise: enquanto a esposa recatada sonha em ter experiências sexuais mais ousadas, o marido, conhecido como conquistador, teme não conseguir corresponder à imagem que envia aos amigos. O filme é muito simples tecnicamente, revelando o orçamento limitadíssimo, mas o roteiro consegue brincar de maneira inteligente com algumas das representações do papel de homem e mulher na sociedade tradicional.
A Pelada