por Bruno Carmelo
Ontem, dia 9 de abril, o festival Cinerama.BC apresentou os seus primeiros longas e curtas-metragens da mostra competitiva. Antes disso, no entanto, uma plateia cheia de cineastas e produtores teve a oportunidade de seguir uma palestra com Marika Kozlovska, consultora internacional do Cinema do Brasil, programa que ajuda na inserção de diretores e filmes brasileiros fora do país.
A aula, bastante prática, apresentou as principais possibilidades de residência em festivais (como a Berlinale e Cinéfondation, em Cannes), detalhando os órgãos de fomento e os mercados de coprodução, onde artistas brasileiros podem apresentar o seu projeto em busca de um produtor. Kozlovska forneceu exemplos concretos da inserção do Brasil nos projetos europeus, como a participação dos jovens cineastas Juliana Rojas, Marco Dutra e Caetano Gotardo nos principais ateliês e mercados de coprodução do mundo.
As sessões da mostra competitiva começaram com o curta-metragem Noite Clara, de Felipe Vernizzi. Embora seja um exemplo da boa iniciativa do festival (o projeto recebeu uma ajuda à produção do próprio Cinerama.BC), o filme decepcionou por ser uma enfadonha colagem dos maiores clichês do cinema de autor: lentidão, ausência de diálogo, narrativa não-linear, imagem em preto e branco, metalinguagem, mistura entre sonho e realidade etc. etc. etc.
O primeiro longa-metragem exibido suscitou maior interesse: a produção suíça Não se Preocupe, de Jeshua Dreyfus, apresenta a interação entre cinco jovens em uma cabana isolada na floresta, durante as férias. As situações exploram de maneira realista a amizade, a tensão sexual e mesmo as possíveis ameaças que o grupo sofre, mas algumas reviravoltas inusitadas levaram parte do público às gargalhadas.
Após a exibição de novos curtas-metragens do convidado de honra do festival, Hans Op de Beeck, um novo curta em competição oficial foi apresentado, o português Cigano, de David Bonneville. A trama explora muito bem a relação de forças entre um homem rico e um cigano que ajuda a trocar o pneu do seu carro, mas depois quer se impor na vida do rapaz, intimidando-o e sugerindo uma possível agressão. A tensão sobe de maneira gradual e interessante, porém o final abrupto quebra as expectativas e deixa um gosto amargo à fábula social que se desenvolvia tão bem.
Já o segundo longa-metragem em competição foi, de longe, a melhor surpresa da noite. O documentário franco-ucraniano O Dia do Mineiro, de Gaël Mocaër, apresenta o feriado na Ucrânia dedicado aos trabalhadores nas minas de carvão. Longe de um retrato didático e cheio de boas intenções, o cineasta revela a precariedade da profissão com ironia e bom humor, tornando-se um personagem diante dos trabalhadores que o desdenham, por ser francês e "civilizado". Um elegante e poderoso choque de classes, ilustrado com imagens e enquadramentos espetaculares.
A segunda noite da competição vai apresentar mais dois longas-metragens: As Filhas e Fugindo do Amanhã, além dos curtas-metragens Gaivotas e Bebê a Qualquer Preço.