por Roberto Cunha
O diretor Lee Daniels esteve no Brasil, durante o Festival do Rio, por conta da exibição do longa O Mordomo da Casa Branca, filme de baixo orçamento (US$ 30 milhões), que já arrecadou mais de US$ 140 milhões nas bilheterias internacionais, faturou alguns prêmios e vem sendo apontado como forte candidato na corrida do Oscar 2014. O AdoroCinema viu o filme na época e bateu um papo super bem humorado com o premiado cineasta. Veja como foi!
O Mordomo da Casa Branca chegou no cinemas e logo começaram a circular comentários de que ele seria um dos fortes candidatos ao Oscar 2014. Como você avalia esse tipo de situação? Isso é bom, ruim?
Eu fico cada vez mais nervoso com isso. Eu tento criar um escudo, uma bolha, porque eu aprendi com meu primeiro filme, A Última Ceia (2001), quando disseram que seria indicado e nada aconteceu. Isso de certa forma me machucou. O melhor é não pensar, porque quando você começa a pensar, se torna vulnerável, receptivo para a dor. Eu aprendi da pior forma possível.
Mas acaba sendo inevitável, né?
Para mim, premiação é quando, através de Preciosa, as pessoas que tiveram problemas de abuso sexual em casa, chegam e agradecem por eu tê-las tocado de alguma forma, por ter ajudado elas a se "curarem", ter falado disso...
Isso é bacana...
Com O Mordomo, os membros da minha família me agradeceram por eu contar a nossa história, porque vários deles morreram, foram para a guerra... Eles agradeceram demais e isso é mais importante que qualquer prêmio. Como artista, eu quero que as pessoas vejam o meu trabalho. Eu ganho um prêmio quando eu faço um filme. E quando ele é realmente bom, com as pessoas se sentindo tocadas... No fim elas choram, riem... Isso é um prêmio real. Claro que eu me sentiria honrado de receber prêmios, mas eu estou bastante feliz com o que tenho até o momento, porque eu sei que estou contando esta história do meu povo.
A questão do preconceito está presente em seu filmes e você fecha O Mordomo da Casa Branca com um frase que poderia significar o fim dessa temática... Você pretende continuar fazendo filme sobre o tema?
Eu sou meu trabalho. Minha experiência de vida está sempre comigo, mesmo como produtor, porque eu vou chamar diretores que tenham uma visão parecida com a minha. O racismo é real para mim. Tudo o que você vê, especialmente quando eu estou dirigindo, é algo que eu conheço, porque eu não posso dirigir aquilo que eu não conheço. Não vai ficar verdadeiro. Eu tenho que ser capaz de passar para os atores o conhecimento e a experiência de algo que aconteceu comigo, alguém da família, amigos...
O longa é baseado em um artigo de jornal. Como ele chegou até você?
A produtora Laura Ziskin (1950-2011) morreu de câncer, tentando levar adiante esse projeto. Ela fez Uma Linda Mulher, os três filmes do O Homem-Aranha. Ela considerava importante esse longa e terminou O Espetacular Homem-Aranha e logo pulou para produzir O Mordomo da Casa Branca. Infelizmente...
São vários momentos reais nessa história do protagonista, como os Panteras Negras, Malcolm X... Existe algum que toca você de uma maneira particular?
Todos eles. Até mesmo os do começo, na fazenda, por mais que eu não tenha idade suficiente para ter vivido aqueles momentos. Mas meu avô estava lá, meu tio foi um Pantera Negra, meu mãe marchou com Martin Luther King... Isso é tudo muito pessoal e também para a maioria dos afro-americanos. Nem todos conhecem esses momentos.
Existe um momento meio bizarro em que um dos presidentes trata de assuntos profissionais dentro do banheiro, com os funcionários por perto. Isso é real ou ficção?
Sim. Totalmente. Ele fazia muito do seu trabalho lá. O mais engraçado é que nós temos as nossas cabeças tão lavadas, que a tendência é imaginar que isso não seria verdade. Quando você vê que é verdade, é bizarro. É isso... Johnson trabalhou no banheiro enquanto se queixava do estômago...
Está preparado para algum tipo de comentário dizendo que você tem um tipo de fórmula para fazer filmes com essa pegada apelativa?
Eu gosto de fazer filmes que tocam as pessoas. Eu gosto de dar vozes para as pessoas serem ouvidas, dar uma cara para elas.
Você estreia no Brasil em 2013 com dois filmes, o drama O Mordomo da Casa Branca e também o suspense Obsessão, que parece ser o único da sua carreira onde você realmente "atuou" também como roteirista...
Na verdade, como diretor eu sempre acabo adaptando o roteiro. Eu fiz uma série de alterações no roteiro de O Mordomo. Não exatamente escrevendo, mas dizendo o que poderia ser escrito. É uma área meio cinzenta, sabe? E aconteceu a mesma coisa em Preciosa.
Leia a crítica e veja abaixo, um vídeo exclusivo - legendado - com James Marsden, como um dos presidentes em O Mordomo da Casa Branca, além do trailer. ;)
O Mordomo da Casa Branca tem elenco de estrelas, como Forest Whitaker, Oprah Winfrey, Robin Williams, John Cusack, Jane Fonda, Cuba Gooding Jr. e Terrence Howard, entre outros.