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    Exclusivo: Diretor da comédia romântica El Critico fala dos filmes argentinos com Ricardo Darin e "os outros"

    Hernán Guerschuny esteve na Mostra SP para divulgar seu primeiro longa na direção. Ele falou com a gente sobre a estreia e, como faz seu filme de maneira bem humorada, criticou a crítica. Veja como foi!

    por Roberto Cunha, em São Paulo

    Com estreia prevista na Argentina para 14 de março de 2014, distribuído pela Buena Vista/Disney, a comédia romântica El Critico foi um dos destaques da Mostra SP, com sessões concorridas. Simples, simpático, criativo e explorando o mau humor de seu protagonista para fazer rir e refletir, o roteiro do diretor Hernán Guerschuny (abaixo sorrindo) pode surpreender muita gente. O AdoroCinema aproveitou a ocasião e bateu um papo legal com ele, que abriu o jogo sobre a crítica, as dificuldades de filmar no seu país e, veja você, sobre os filmes argentinos com Ricardo Dárin e o resto.

    A primeira pergunta é inevitável... Você e o produtor Pablo Udenio são críticos de cinema?

    Nós fazemos uma revista sobre cinema (Haciendo Cine), que fala do mercado de uma maneira geral e tem um espaço para a crítica, mas não é um revista de críticas. Nós estudamos Cinema, fizemos curtas e queríamos fazer um longa.

    E por que estrear com El Critico?

    A ideia já era antiga e foram necessários muitos anos para juntar o dinheiro e rodar. Vivemos o dia a dia de fazer uma revista de cinema. Essa contradição de escrever sobre filmes e querer fazer acabou gerando um roteiro, que fala de um homem que passa a vida escrevendo sobre filmes, vai nas sessões fechadas para a crítica, conversa com amigos da profissão, sabe fazer roteiros e gostaria de fazer o seu filme. Eu acho que esse conflito está no coração de El Critico, sobre alguém querendo fazer, mas ocupando um lugar onde só se pensa.

    "Na Argentina tem o filme com Darín e o resto. Se não tem ele, não interessa"

    E esse conflito é dele ou seu?

    Todo estreia honesta tem os próprios conflitos do diretor.

    Há quanto tempo você alimentava essa ideia?

    Mais ou menos sete ou oito anos, desde a primeira versão do roteiro.

    E ele não mudou?

    A alma da história era a mesma. Foram muitas versões, mas a ideia inicial está ali.

    Essa decisão foi sua e de seu sócio, o Pablo?

    Sim. E estou muito feliz dele estar junto porque fazer um filme na Argentina não é fácil, porque em 99% dos casos só interessa saber quem é o diretor...

    A não ser que tenha Ricardo Darín no elenco? (risos)

    Exatemente. Na Argentina tem o filme com Darín e o resto. Se não tem ele, não interessa. Eu tenho a sorte de ter um amigo e um sócio, junto nesse projeto e agora estamos podendo fazer esse trabalho de divulgação.

    O filme faz muitas citações cinematográficas, mas a maior parte delas são exatamente o contrário do que gosta o mau humorado e inteligente protagonista Victor. Por que não colocar o gosto dele e sim filmes mais populares?

    Não tinham me perguntado isso, mas tem cena de Godard (Acossado) e ele fala de Frank Capra. A resposta é que apesar de o protagonista ser um intelectual, que gosta dos clássicos, suas relações humanas se limitam a três pessoas que falam de cinema. Eu queria que o filme fosse universal e falasse com muita gente. A ideia era vencer o desafio de ter um personagem muito inteligente e fechado, mas a história chegando em todo o público. E são poucos os diretores que conseguem fazer essa mistura. Por isso gosto de Woody Allen. Ele leva a filosofia, cultura e arte a lugares populares. Isso é maravilhoso e eu tentei fazer o mesmo com o meu filme. Se o espectador se interessar em conhecer Godard ou Capra, através dele, será extraordinário para mim.

    E quais são as suas preferências? Os mais populares ou os filmes do circuito de arte?

    Um professor me disse uma vez que existem dois tipos de filmes: os necessários ou desnecessários. Todos os rótulos de filmes comerciais, filmes de arte, de festivais, cinema pipoca, são rótulos da imprensa. O público enfrenta aqueles 90 minutos, ou mais, e o filme vai entreter ele ou não. Ele vai experimentar. A minha seleção de filmes é muito eclética. Vai de Manhattan, de Woody Allen, passa por Paul Thomas Anderson, até De Volta para o Futuro, que me marcou muito...

    Você citou no filme, por exemplo, Green Card - Passaporte para o Amor... Você gosta?

    As comédias românticas, em geral, são um prazer culpável. As boas são extraordinárias, porque por mais que você saiba o final, saber que os personagens irão terminar juntos, o que importa é o caminho.

    "Se os críticos pudessem entender melhor o sexo, gostariam muitos mais dos filmes"

    Qual de vocês dois é o Victor?

    Nenhum de nós. É uma mistura de muita gente. Amigos, críticos, professores e até meu padrasto, uma pessoa super fechada em seus selos, livros, discos de vinil, um colecionador obsessivo, que adora filmes de François Truffaut. Há uma sequência que é uma homenagem ao filme Beijos Proibidos (1960), que é quando Victor investiga sua amada, segue ela pela rua e fica espiando a conversa dela com um homem. 

    El Critico questiona as pessoas que tem uma postura rígida, até negativa, não somente diante dos filmes, mas sobre a vida. Qual era a mensagem mais importante? Falar sobre a vida ou sobre os filmes comerciais, que ele tanto odeia?

    Boa pergunta. Acho que as duas coisas estão relacionadas. É uma resposta de ida e volta. Se você pensar que um dia você pode estar contente, assiste um filme e se "entrega" mais a ele, do contrário, em um dia ruim, o filme te chateia. Por outro lado, os filmes maravilhosos, que te "pegam", fazem você pensar por vários dias ou, pelo menos, por várias ruas, quando sai do cinema. Não só pensando. Quando você vê um filme de James Bond, você se sente um pouco o agente secreto. O cinema e a vida são a mesma coisa. E como o meu protagonista odeia a vida, o cinema, para ele está morto. É parte de uma mesma coisa. Se os críticos pudessem entender melhor o sexo, gostariam muitos mais dos filmes, teriam uma relação muito mais carnal com a vida e não tão racional.

    E como fica essa relação com os críticos?

    Muitas vezes, eles querem estar acima dos títulos. Aqueles em que nada acontece são ótimos para eles, porque podem elaborar teorias, que são mais importantes que os próprios filmes. Por essa razão tem aquela cena com a sobrinha, porque os críticos encontram um monte de coisas onde não há. Tem uma passagem conhecida no Festival de San Sebastian, que projetaram um documentário sem som, e em preto e branco. Um crítico argentino escreveu um artigo enorme, uma página de jornal, elogiando o filme. Depois, saiu um aviso do festival pedindo desculpas pela falha na projeção, porque o filme tinha som. Inacreditável. Daí veio a ideia de colocar essa cena da sobrinha.

    Qual é a dose de realismo do filme? Tem algo seu ou do produtor?

    Quando a Sofia (Dolores Fonzi) diz para Victor (Rafael Spregelburd) aquela frase forte no aeroporto, isso aconteceu comigo. Um mulher disso isso para mim, há muitos anos, e me marcou demais. E as sessões para a crítica, que o personagem frequenta também são baseadas na realidade. O lugar, inclusive, é verdadeiro. Mas eu pensei se não seria demais, se faria sentido mostrar pessoas fazendo aquelas coisas...

    Essa é uma passagem bastante curiosa, porque existem figuras assim no Brasil. No Rio de Janeiro, por exemplo, tem uma figura conhecida, que vai nas cabines de imprensa para comer, guardar no bolso...

    Mas então você está me dizendo que se trata de um personagem universal?!? Isso me alegra muito, porque era uma coisa que eu perguntava o tempo todo. Se eu estaria filmando algo para nosso amigos, que só a gente entenderia... Agora vejo que não.

    E projetos futuros? Já tem um novo filme pela frente?

    Sim. O nome de trabalho é Recreo (Break). Será um filme coral (vários personagens protagonistas), que se passa em um feriado de Semana Santa, em um casa, com pessoas na faixa de 40 anos e com filhos. Será uma comédia dramática, que poderemos rodar com mais velocidade. Começamos em março, usando duas câmeras e trabalharemos com seis grandes atores argentinos muito conhecidos. Mas é um projeto pequeno para lançar em 2014 mesmo.

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