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    Financiamento de filmes por fãs vira moda no cinema

    Spike Lee pega a onda do financiamento coletivo após os sucessos de Veronica Mars e Wish I Was Here. Aproveitamos para traçar um panorama do modelo de apoio e falar um pouco sobre o crowdfunding no cinema nacional.

    por Lucas Salgado

    Já ouviu falar em crowdfunding? O termo nasceu em 2006, com o jornalista americano Michael Sullivan, e serve para se referir a projetos de financiamento coletivo, em que qualquer pessoa investe dinheiro em um projeto em troca de alguns benefícios. Inicialmente, a ideia foi usada para variados tipos de projetos, mas recentemente tem se tornado moda no cinema americano, o que tem levantado uma série de questionamentos.

    O primeiro grande projeto a utilizar este modelo de financiamento foi a animação em stop-motion Anomalisa, escrita e dirigida por Charlie Kaufman (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças) e produzida por Dan Harmon (Community). Em 2012, eles pediram US$ 200 mil e arrecadaram US$ 400 mil. Mas o projeto que mudaria a história do crowdfunding em Hollywood viria no início de 2013 com Veronica Mars, que quebrou todos os recordes do site Kickstarer ao conseguir US$ 5,7 milhões em doações. A campanha contou com a participação ativa da atriz Kristen Bell e acabou motivando outros atores e diretores a fazerem o mesmo com seus projetos.

    Nomes como Zach Braff (Wish I Was Here), Spike Lee e James Franco buscaram o financiamento coletivo como forma de financiarem seus projetos. Lee, por sinal, está no meio da campanha para arrecadar US$ 1,25 milhão para seu novo projeto, ainda sem título definido. Ele arrecadou pouco mais de US$ 500 mil e deve ter dificuldades para alcançar a meta. O diretor recebeu duras críticas por utilizar o crowdfunding, uma vez que teria condições de conseguir essa verba por outros meios e estaria tirando dinheiro de projetos menores. Ele, no entanto, respondeu: "Isso é uma falácia! O fato é que estou trazendo exposição para o Kickstarter e investidores que nunca tinham ouvido falar no site. A mesma verdade vale para Veronica Mars e para o projeto do Zach Braff. Existe um estudo que comprova que não estamos ferindo jovens cineastas." Confira a página do projeto de Lee e veja se vale a pena investir no filme. Se doar US$ 10 mil, você poderá jantar com o diretor e assistir um jogo do New York Knicks ao seu lado no Madison Square Garden. Esta contrapartida, por sinal, atraiu Steven Soderbergh, que fez uma doação.

    Apesar dos exemplos bem sucedidos citados, é importante destacar que ainda há muita incerteza por trás do financiamento coletivo. Visitando o Kickstarter.com e o Catarse.me podemos conferir centenas de projetos que não obtiveram o valor desejado, fazendo com que todas as doações fossem devolvidas. Um dos casos mais conhecidos no Brasil foi com o premiado filme Colegas (foto), que pediu a ajuda do público para arrecadar R$ 100 mil e acabou recebendo menos de R$ 10 mil. Conversamos com o diretor do longa, Marcelo Galvão, que destacou: "Minha experiência com crowdfunding não foi boa. Colocamos um valor pequeno e oferecemos várias contrapartidas legais, como nome nos créditos. Foi meio decepcionante, acho que funciona melhor para TCCs (trabalhos de conclusão de cursos) ou curtas, para projetos de R$ 2 ou 3 mil. Passou de 10 mil, é complicado."

    Galvão citou o documentário Eu Maior , de Fernando Schultz e Paulo Schultz, como um exemplo de financiamento coletivo que deu certo no Brasil. Eles conseguiram arrecadar R$ 200 mil através de doações de empresas e mais de 600 pessoas. O modelo utilizado pelo filme, no entanto, foi diferente, oferecendo dedução de imposto de renda graças a uma plataforma criada pela Ancine.

    O Brasil ainda não possui exemplos de grandes produções que adotaram o modelo de arrecadação. Como bem destacou Marcelo Galvão, acaba sendo uma prática usada mais para pequenos projetos, talvez se adequando à natureza original do crowdfunding, que era apoiar aqueles que não possuem condição de viabilizar seus projetos. Este é o caso, por exemplo, dos diretores Celso Meireles e Plínio Meirelles, que tentam finalizar o longa Voo Cego (foto), em que trabalham desde 2009. "Estávamos realizando o filme sem a garantia de que teríamos todo o recurso necessário para finalizar, e, nossa fonte se esgotou antes disso. Sabíamos que muitas pessoas queriam ajudar, só não sabiam como. A plataforma de crowdfunding foi uma oportunidade de disponibilizar uma maneira sistematizada de contribuição. Mas não é nada fácil, é necessário uma boa rede de contatos e muita divulgação. É um desafio de credibilidade, ninguém vai apoiar se não acreditar na equipe do projeto. Não é tão difícil conseguir curtidas no vídeo, mas, conseguir que as pessoas de fato apoiem, é outra história", destacou Celso. Saiba mais sobre o projeto, que já recebeu pouco mais de R$ 4 mil em doações e ainda tem 45 dias para atingir a meta de R$ 10 mil.

    Em 2012, o Catarse contou com 56 projetos arrecadando R$ 660 mil em doações. O número deve crescer em 2013, mas é certo dizer que o financiamento coletivo ainda engatinha no Brasil. Ainda assim, foi lançado recentemente um site específico para o apoio de filme: o Cineasta.cc. Tais veículos acabam oferecendo uma via alternativa ao financiamento através de leis de incentivo.

    Alcançando o resultado ou não, virando moda ou não, o crowdfunding parece ter vindo para ficar no cinema mundial. À Procura de Robert BarkerBlood BrotherParque do PovoLove or Whatever são alguns longas produzidos por causa de doações que chegarão aos cinemas em breve. Este também é o caso de The Canyons, dirigido pelo cultuado Paul Schrader e estrelado pela polêmica Lindsay Lohan e pelo ator pornô James Deen, e que fará sua estreia no Festival de Veneza.

    The Canyons

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