por Roberto Cunha
Um dos 20 filmes mais esperados do segundo semestre de 2013, O Homem de Aço, enfim, chega nos cinemas brasileiros nesta sexta-feira, 12, e o AdoroCinema já conferiu (leia a crítica). Neste mesmo dia, trocamos uma ideia rápida com um brasileiro que trabalhou nos efeitos especiais do filme.
Sandro Di Segni está há 15 anos fora do Brasil e os últimos quatro passou em Londres, de onde conversou conosco, após mais um dia na Double Negative, empresa com mais de 100 produções (muitas bem sucedidas), muitas indicações, prêmios e um Oscar por A Origem. Aliás, ele disse pra gente que Christopher Nolan curte bastante o trabalho deles, tanto que a trilogia do Batman passou por lá e o novo do Super-Homem também.
MUITA DESTRUIÇÃO
Ele contou para nós que participou de toda a sequência da nave inimiga sobre Metrópolis, do momento do raio gravitacional, quando as coisas são sugadas e depois largadas, da hora do buraco negro e também da briga entre o herói e o terrível Zod. Ainda na fase de produção, revelou que as sessões para ver o andamento do trabalho duravam meia-hora, tamanha era a quantidade de trabalho realizado.
FALSA REALIDADE
Sobre o resultado final do trabalho, não esconde o orgulho de fazer parte do time. "O que é muito legal é que quando você assiste no cinema você não tem noção do que era real ou não. Tinha cena ali que era inteira em 3D. Os carros que passaram todos quebrados, por exemplo, a maioria eu que quebrei. Os prédios... quase tudo era 3D", dizendo que até o herói e Louis Lane, em algumas cenas mais longe, era computação. "É difícil até para nós dizer hoje em dia", concluiu.
A EVOLUÇÃO
Questionado sobre a velocidade das mudanças na área, foi taxativo: "É impressionante o que está evoluindo e a rapidez. As principais diferenças de um filme de um, dois anos atrás são os sistemas de emulação de fluidos e corpos rígidos, que a gente usa muito em efeitos. Água, fumaça, fogo... qualquer tipo de partícula. Eu usava muito particula e hoje uso muito mais fluido que particula por serem mais reais". Segundo ele, uma explosão, por exemplo, inclui uma simulação de fluido, que tem temperatura e combustível (que te dá o fogo e a fumaça grossa). "Normalmente, uma explosão tem uma onda de choque na frente e isso é uma outra simulação de fluido mais uma simulação de partícula. Ou seja, a simulação principal que é a explosão acompanha uma simulação de partícula e uma de corpo rígido. É muito elemento que vai fazer uma cena".
COMO COMEÇA?
Sandro disse que a maioria das vezes o processo começa sem você saber exatamente o que o autor da ideia está querendo e que até ele mesmo pode não saber direito. Lembrou que a maioria das ferramentas usa muita matemática e física, pela necessidade de se aproximar do real. "Como vai funcionar essa espuma? Vou lá na cozinha, pego um balde de água e sabão, dou uma mexida, jogo no chão".
THOR: O MUNDO SOMBRIO, GOZILLA...
A gente bem que tentou, mas devido aos acordos de confidencialidade, Sandro não podia falar nada sobre Thor: O Mundo Sombrio e Godzilla, seus dois últimos projetos dentro da Double Negative. Ele disse que fez as peças promocionais que serão exibidas na Comic Con 2013, que acontecerá entre os dias 18 e 21 de julho, e acredita que as pessoas irão se supreender.
ORIGENS
Sempre muito ligado em tecnologia desde criança, contou que já se virava improvisando nos códigos que vinham errados nas revistas do jogos que queria jogar no seu computador MSX, lá no início dos anos 80. Filho de arquiteto, o primeiro contato com o 3D foi no conhecido programa AutoCad, seguido do programa 3D Studio, anterior ao ao 3D Max, muito usado nos dias de hoje.
INFLUÊNCIAS
O filme que fez ele descobrir que queria trabalhar com cinema foi Jurassic Park. "Eu tava vendo um dinossauro real. Eu queria muito aprender, saber como eles faziam. Eu tinha ideia, mas eu era menino ainda", afirmou o fã de O Quinto Elemento, Matrix, Avatar, O Senhor dos Anéis e Piratas do Caribe. Além deles, fez menção especial a Guerra nas Estrelas, de George Lucas, por ter tido um bom contato com o cineasta.
FAMOSOS
A experiêcia com Lucas acabou se ampliando, pois Sandro acabou chefiando, durante três anos, uma equipe da Lucas Film, montada em Singapura, para tocar o seriado animado Guerra dos Clones. "É muito louco você sentar com um cara desses e conversar de igual para a igual", disse ele sobre outro contato que teve, dessa vez com John Knoll, profissional de efeitos especiais, quatro vezes indicado ao Oscar, além de um já conquistado por Piratas do Caribe - O Baú da Morte.
HARRY POTTER E O OSCAR
Ainda sobre o prêmio máximo do cinema, Sandro contou que na cerimônia de 2012 eles foram surpreendidos por Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 ter perdido para A Invenção de Hugo Cabret. E para quem se emocionou com o final da saga, ele fala da importância de ter feito a cena de destruição da ponte de madeira que chegava em Hogwarts. "Foi muito legal. Você destruir um pedaço de Hogwarts, algo tão icônico no cinema da Inglaterra. Para mim foi meio que um sonho trabalhar no Harry Potter, uma realização", completando que muitos detalhes feitos no capricho ("tinha até parafuso!") se perderam por conta do visual mais escuro na versão final do filme.
ERROS & ACERTOS
Apesar dos muitos acertos da companhia, Di Segni lamentou muito o fracasso de John Carter: Entre Dois Mundos. De acordo com ele, o investimento foi muito grande: "Era para ser seis filmes, a empresa estava acreditando muito no projeto e a gente cresceu de 400 para 1.300 só para trabalhar o filme. Acontece."
DE VOLTA PRA CASA
Quinze anos longe da pátria, após passar pelo Canadá, Singapura, Espanha e, por último, em Londres, Sandro avisou que está voltando para o Brasil. "O cinema está num momento muito legal no Brasil, as séries também". Otimista, ele ressalta que o mundo fala de crise, mas o Brasil esbanja oportunidades e é o que ele pretende aproveitar, trazendo na sua bagagem o conhecimento adquirido ao longo desses anos de aventura.
ANIMAÇÃO X CINEMA
Além de frisar que existe preconceito dos profissionais de cinema em relação aos que fazem trabalho para a TV, Di Segni disse que o trabalho não é muito diferente. "A diferença é que no cinema é tudo mais devagar no começo, você tem mais prazo para desenvolver o conceito das coisas, mas no fim acaba tudo em correria também". Sobre a experiência no seriado animado Guerra dos Clones e em outras séries menores, lembrou que tiveram um ano para produzir o primeiro episódio, enquanto nos outros eram dois meses no máximo e uma verba também menor. "É muito incrível você trabalhar nessas super produções".