por Bruno Carmelo
Estreia nesta sexta-feira, dia 7 de junho, a comédia francesa Além do Arco-Íris, dirigida, escrita e atuada por Agnès Jaoui (O Gosto dos Outros, Uma Questão de Imagem), em parceria com Jean-Pierre Bacri. O filme parodia os contos infantis clássicos, como Chapeuzinho Vermelho, Cinderela e A Bela Adormecida, atualizados para os dias atuais. Agathe Bonitzer e Arthur Dupont interpretam um jovem casal apaixonado, enquanto Jean-Pierre Bacri faz um homem pessimista, com medo da previsão de uma vidente. Jaoui interpreta uma atriz e professora de escola primária, que encena contos infantis com os alunos.
Durante o Festival Varilux de Cinema Francês 2013, a cineasta conversou com o AdoroCinema sobre seu método de trabalho e seus temas preferidos. Conhecida pela franqueza e pelo bom humor, ela não hesitou a nos corrigir (ela não considera seus filmes anteriores como dramas, e sim comédias dramáticas!) e admitir que não permite nenhuma improvisação em cena, porque o resultado é sempre pior do que previsto.
Além do Arco-Íris
Confira o resultado desse bate-papo:
Além do Arco-íris é o seu quarto filme, e todos eles são filmes corais, com vários personagens. O que te atrai nessa estrutura?
Eu não faço de propósito. Jean-Pierre Bacri e eu começamos a escrever para o teatro, e como também somos atores, nós não queríamos construir personagens que demoram horas antes de entrar em cena. Além disso, nós já somos dois, e não queremos ficar sozinhos em cena. Assim os personagens vão se acrescentando naturalmente. Neste caso, era um conto, então tinha uma princesa (que certamente não seria eu!), a madrasta, o pai, o rei...
Você transita sem problemas entre a comédia e o drama. Depois de fazer dois dramas, agora vieram duas comédias. Como foram feitas essas escolhas?
Eu fiz dois dramas? Quais?
O Gosto dos Outros (2000) e Uma Questão de Imagem (2004)! Eles são dramas, não?
(Rindo) É sério? Para mim, os quatro filmes são comédias dramáticas! Você considera como dois dramas e duas comédias? Que engraçado! É verdade que quando escrevemos Enquanto o Sol Não Vem (2008), nós tentamos ser mais leves, mas nós nunca pensamos como uma comédia. Que interessante! Eu nem sabia de quais dramas você estava falando...
Como surgiu a ideia de abordar a temática dos contos? Esse já era um tema que te interessava particularmente?
Tem um musical de Stephen Sondheim, chamado Into the Woods, que eu vi há muitos anos na Inglaterra, e que misturava diversos personagens de conto. Eu adorei, e isso me marcou. Além disso, nós queríamos buscar uma forma diferente, eu sempre busco algo diferente. Eu também pensava como podia ser que, apesar de ter pais psicólogos e feministas, eu comecei a pensar, a partir de certa idade, no príncipe encantado. Esses contos foram escritos há séculos, em uma época na qual as mulheres esperavam ser “compradas”, se eu posso dizer assim, pelo marido. Elas eram muito submissas, e ainda existe submissão hoje.
O filme mostra apenas uma nova versão da família. Nada de núcleos patriarcais: existem divórcios, amigos morando juntos, pais solteiros. Você queria reconstruir a imagem da família tradicional?
Nos contos, frequentemente a mãe já morreu, a filha não mora com seus pais de verdade, ou os pais abandonam os filhos. Nessa época, muitas mulheres morriam jovens, durante o parto, então foi lógico mostrar esse tipo de família. Isso veio naturalmente.
Quando conversamos com Arthur Dupont, ele disse que você tem um método muito preciso de direção de atores, com ideias claras. São feitos muitos ensaios, existe lugar para improvisação?
Improvisação? De jeito nenhum. (Risos) Eu discuto individualmente com cada um, especialmente quando tem palavras ou frases que os incomodam. Depois começamos os ensaios separados, mas é mais para se conhecer, para criar uma atmosfera de confiança. Na hora da filmagem, eles sabem que Jean-Pierre e eu gostamos que o texto seja muito respeitado porque ele é muito musical, como uma partitura. Normalmente, o que eles inventam na hora não é tão bom quando o que a gente já tinha escrito! Nem sempre, mas na maioria dos casos! Como nós trabalhamos muito, preferimos que eles façam o que está escrito. Eu sempre deixo que eles façam a primeira tomada como quiserem, e depois eu intervenho de maneira cada vez mais precisa.
Como foi feita a escolha do elenco?
Agathe e Arthur foram escolhidos com testes de elenco. Foi muito rápido para escolher Arthur, embora eu não imaginasse o personagem como ele, fisicamente. Mas ele foi excelente, não tivemos nenhuma hesitação. Para Agathe foi mais complicado, porque a personagem é mais complexa.
A escolha de Agathe Bonitzer me pareceu surpreendente. Ela tem um temperamento forte, uma postura muito determinada, diferente da ideia comum da princesa ingênua.
É verdade. Mas eu queria uma princesa mimada, teimosa, que pensa “Eu sei de tudo”, como essa nova juventude cheia de certezas. Ela vem de uma família rica, ela não tem problemas financeiros. Eu buscava uma princesa assim. Eu até tentei fazer testes com atrizes mais ingênuas e frágeis, mas quando ela levava um tapa, a gente ficava com dó dela! Não dava certo. Na verdade, o tapa na cara dela era uma boa lição, ela precisava aprender isso. Então precisamos escolher uma atriz diferente.
Novamente, você atua, escreve e dirige. Em uma entrevista, Jean-Pierre Bacri dizia que, depois de Smoking/No Smoking (escrito pelo casal e dirigido por Alain Resnais), ele não queria mais escrever um filme sem atuar nele. Você concorda com ele?
Completamente. Nessas horas eu sei que não sou apenas roteirista. Escrever e não atuar depois seria como preparar uma grande festa, mas depois não me divertir com os outros. Sempre quando eu escrevo, eu gosto muito, mas quando escrevi Smoking / No Smoking, fiquei frustrada de não participar do filme depois. Depois disso eu pensei: “Nunca mais!”.