por Lucas Salgado
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada continua em cartaz nos cinemas de todo Brasil, encantando os fãs das histórias de J.R.R. Tolkien. O AdoroCinema recebeu da Warner Bros. uma entrevista exclusiva com o diretor, produtor e roteirista Peter Jackson e com a roteirista e coprodutora Philippa Boyens. Abaixo, você confere o bate papo na íntegra!
Estou curioso para saber quais partes do livro vocês gostaram de expandir ao máximo nestes três filmes.
Peter Jackson: Bem, teve os Gigantes de Pedra. Aquilo é apenas um parágrafo no livro onde eles passam pelas montanhas e Tolkien fala sobre uma chuva de trovões criada por uma luta entre gigantes. Mas ele não se aprofunda nisso, particularmente. Esse tipo de coisa foi legal pois era uma cena incrivelmente visual que estava fora do livro, mas que poderíamos desenvolver e expandir. Definitivamente, expandimos as cenas nos túneis dos Goblins.
Philippa Boyens: Eu amei Azog, o Orc Albino. Nós simplesmente amamos aquele nome e amamos a história pregressa dele. Então pensamos, ‘não podemos matá-lo, vamos mantê-lo vivo’. Sei que Fran Walsh e eu adoramos trazê-lo de volta. E acho que ele se mostrou bem poderoso. Então, foi bom. Ele tem uma boa jornada pela frente.
Em um discurso, Gandalf fala sobre o contraponto entre simples atores de gentileza com outros de grande heroísmo. Isso também está na trilogia O Senhor dos Anéis. Pode falar um pouco sobre o tema?
Jackson: Uma das coisas que eu gostei de verdade, que fizeram deste filme uma alegria para mim, foi conseguir fazer a ligação entre os filmes de O Senhor dos Anéis com os de O Hobbit. Não tenho certeza se está falando sobre isso, mas tem uma cena em O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel em que eles estão nas minas de Moria e param em um cruzamento. Galndalf fala com Frodo sobre os eventos de O Hobbit. Ele fala sobre Bilbo e sobre a chance que ele teve de matar o Gollum, mas não o fez. E o fato de não ter matado cria a história de O Senhor dos Anéis, para o bem e para o mal. Foi realmente interessante, 10 ou 12 anos depois de rodarmos aquela cena, voltar e de fato mostrar o momento em que Bilbo segura sua mão. Completar esses círculos foi das coisas mais interessantes.
Boyens: Vai ser um grande box em home video, não vai? Com todos os seis filmes.
Jackson: Sim!
Podem falar um pouco sobre as mudanças no personagem Thorin, que deixe o lado mais cômico para assumir a figura de um rei guerreiro?
Boyens: Foi algo simples, na verdade. Quando estávamos escrevendo, percebemos o quanto a audiência precisava se preocupar com este personagem. De certa forma, muito do contado é sua história. Ele é muito mais velho no livro e é muito difícil investir em um personagem que quer retomar sua terra e reconstruir uma cidade aos 80 anos. Então, quando começamos a seleção do elenco, procuramos atores entre 45 e 55 anos, alguém que tinha vida dentre dele, que poderia ser um personagem heroico e um grande lutador. Isso seria complicado com o personagem que o professor Tolkien escreveu. Tomamos esta decisão. Ele seria mais novo. Richard Armitage foi o ator mais jovem a fazer um teste para o papel. A escolha não teve relação com o fato dele ser lindo (risos), foi sobre o fato de ter feito um teste fenomenal.
Como foi o processo de captura de movimento do Gollum?
Jackson: Em O Senhor dos Anéis, Andy Serkis fazia a captura de movimento, muitas vezes, seis meses ou até um ano depois que a cena era filmada. Ele estava sempre no set para ajudar Elijah Wood e Sean Astin, mas ele não era capturado de forma alguma. Aí, bem depois, ele tinha que recriar aquilo. Elijah e Sean não estavam mais ali na pós-produção e ele tinha que buscar a energia da cena ali sozinho no estúdio. Agora, a captura de movimento foi feita no mesmo momento em que gravamos a fotografia. Então, Andy e Martin Freeman estavam atuando juntos. O processo foi muito mais orgânico.
Quando surgiu a ideia de rodar a 48 frames por segundo (HFR)? O que aprendeu com a reação das pessoas?
Jackson: Vou começar pelo fim. Estou fascinado com as reações. Tendo a achar que qualquer um abaixo de 20 anos não ligou muito e achou que ficou legal. Eles geralmente acham o 3D legal e são os 48 fps que permitem ao 3D atingir todo seu potencial. Você tem uma imagem mais precisa, o que cria um mundo mais tridimensional. Eu tinha visto alguns filmes com alta frequência de frame. Tinha visto um filme para turistas quando era pequeno na Nova Zelândia. E me lembro de ir nos parques da Disney e assistir a Star Tours criada por George Lucas, que era em HFR. Eu tive a experiência de dirigir um vídeo para a atração do King Kong na Universal Studios, na Califórnia. Foi em 60 fps e em 3D. Pensei, “nossa, isso é legal. Quero fazer um filme assim.” Mas na época ainda predominavam os projetores mecânicos, que estavam fixados no formato 24 fps desde os anos 20. Mas o advento dos projetores digitais permitiu que esta mudança acontecesse. A grande questão é que não se trata de uma tentativa de mudar a indústria do cinema. É uma outra escolha. Projetores que rodam em 48 fps também rodam em 24. Não precisa ser uma coisa ou outro. Pode filmar um longa em 24 fps e ter sequências em 48 ou até 60 fps.
Como o 3D alterou a forma com a qual dirige as cenas?
Jackson: Não mudei meu estilo de direção. E não queria fazer isso. Usei câmeras Red Epic e a tecnologia 3ality. Eu não queria converter, queria rodar em 3D pois é muito mais realista. Felizmente, tivemos um grande apoio de companhias que trabalharam conosco e criaram o equipamento mais leve e pequeno que conseguiram. Não queria ser um diretor diferente voltando à Terra Média. Queria manter o mesmo estilo.